Bento XVI: Pessoas despedem-se de «alguém da família» – padre Manuel Morujão

Antigo porta-voz da CEP recorda «acolhimento extraordinário» na viagem a Portugal, em 2010

Foto: Lusa/EPA

Octávio Carmo, enviado da Agência ECCLESIA ao Vaticano

Cidade do Vaticano, 04 jan 2023 (Ecclesia) – O padre Manuel Morujão, que reside em Roma ao serviço da Companhia de Jesus (Jesuítas), disse à Agência ECCLESIA que a cidade e o mundo se despedem de Bento XVI como “alguém da família”.

“As pessoas mostravam saudades de alguém da família. Mais do que o intelectual, do professor, do chefe de Estado, era o familiar próximo, que fica no coração, e isso é muito belo”, disse à Agência ECCLESIA o antigo porta-voz da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP).

O religioso observa que o Papa emérito, falecido no último dia de 2022, aos 95 anos de idade, era vista como um “avó comum, santo, sábio e carinhoso”.

A homenagem de peregrinos e visitantes, junto aos restos mortais do Papa Emérito Bento XVI prossegue desde as primeiras horas desta manhã, na Basílica de São Pedro, por onde passaram mais 130 mil pessoas entre segunda e terça-feira, de acordo com os dados da Gendarmaria do Vaticano.

O padre Manuel Morujão entende que Bento XVI, com a sua renúncia em 2013, ajudou a centrar a sua imagem na “essência da pessoa” e não só nas missões que desempenhou.

“Quando se alcança um alto patamar, não é fácil descer dele”, indica, fala num ato de “coragem e lucidez”, em nome de um “maior serviço” à Igreja Católica.

Esta decisão, acrescenta, pode representar um “modelo social”: “Saber renunciar não é uma demissão, mas é uma missão maior, embora se deixe um determinado cargo”.

O sacerdote era o secretário da CEP, em 2010, aquando da visita de Bento XVI a Portugal (11-14 de maio), estando envolvido na organização do evento, que confirmou o Papa como “um profeta de causas fundamentais, como a justiça e a paz”.

“O nosso povo recebeu um pai na fé, um irmão na fé, uma pessoa de família, e teve um acolhimento extraordinário”, assinala.

O padra Manuel Morujão recorda ainda a experiência de “fé partilhada”, nos banhos de multidão, falando de Bento XVI como um homem “tímido, recolhido”, que se mostrava uma pessoa “carinhosa”, no contacto direto.

“Foi alguém exímio em gentileza”, destaca, recordando a intervenção do Papa Francisco, no dia do falecimento do seu antecessor.

O religioso jesuíta assinala que o falecido Papa foi também alguém capaz de se fazer “ouvir” pelas multidões, com a riqueza própria do seu estilo.

“Era um intelectual exposto, vivia para servir”, precisa.

Para o entrevistado, Bento XVI destaca-se como “campeão do perdão”, como aconteceu aquando dos primeiros “Vatileaks”, o mediático caso de furto de documentos confidenciais.

Paolo Gabriele, mordomo do falecido Papa, recebeu deste um perdão, a 22 de dezembro de 2012, que lhe permitiu deixar a cadeia e voltar a trabalhar, tendo em consideração a sua vida familiar, por ser pai de três filhos.

“São estes gestos que mostram um coração grande”, aponta o padre Manuel Morujão.

O Papa emérito deixou, entre outros, um pedido de perdão no seu testamento espiritual, “reconhecendo os seus limites, como todos têm”.

A Missa exequial pelo Papa emérito Bento XVI vai ser presidida esta quinta-feira, pelo Papa Francisco, a partir das 09h30 (menos uma em Lisboa), na Praça de São Pedro.

OC

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