«Ad Limina» 2024: Viver no Pontifício Colégio Português «dá um banho de humildade» – padre José Fernando Caldas

Num contexto da visita dos Bispos portugueses ao Vaticano, conversamos com o antigo reitor do Pontifício Colégio Português para descobrirmos a ligação desta casa a Roma e descobrimos as raízes da sua vocação na serra da Peneda-Gerês

Foto: Agência ECCLESIA/CB

Lisboa, 22 mai 2024 (Ecclesia) – O padre José Fernando Caldas, da diocese de Viana do Castelo, foi reitor do Pontifício Colégio Português, no Vaticano, entre 2011 e 2017, e diz à Agência ECCLESIA que naquela casa se ganha “um banho de humildade”.

“Ali há um banho de humildade. Eu fui para Roma, já tinha sido pároco, prefeito de Seminário, responsável da pastoral juvenil, capelão da Senhora da Agonia, entre outras coisas, e chega-se a Roma voltamos a ser estudantes, colegas, sem títulos, sem serviços. E isto é um choque, por um lado, mas o ritmo e as propostas da casa ajudam-nos a não esquecermos que somos padres”, conta à Agência ECCLESIA.

“O Colégio tem um ritmo que permite manter uma identidade sacerdotal, com as celebrações, com o espírito de vida fraterna, com momentos de vida comunitária, sem ser um espírito conventual, mas com um ritmo que é necessário: o serviço à mesa, a constituição de equipas que estão ao serviço, uma equipa de cultura, uma equipa de liturgia, uma equipa de jardim, uma equipa de desporto, permitia que, entre 40 ou 50 sacerdotes, houvesse uma coordenação de uma comunidade, que é grande, e uma vivência comunitária também”, acrescenta.

O Pontifício Colégio Português acolhe padres, em Roma, vindos de Portugal e de outros países com expressão portuguesa, como “Timor, Angola, Moçambique”, para aprofundamento de estudos em diversas áreas, para posterior regresso às suas dioceses de origem e desenvolvimento de trabalho “com outra autoridade científica”.

“O Pontifício Colégio Português é a casa da Igreja portuguesa em Roma, ou das Igrejas de Portugal em Roma, porque é a casa da Conferência Episcopal Portuguesa. Os bispos de Portugal, que ora que estão em Roma para a visita Ad Limina, residem no Pontifício Colégio Português, porque é sua casa”, traduz.

O padre Fernando Caldas traduz a proximidade do Colégio à figura do Papa, mas também a “abertura a tudo o que Roma proporciona”, permitindo reconhecer “um respiro, um horizonte” diferente.

Foto: Pontifício Colégio Português

“Em Roma sente-se a centralidade da presença do Papa, a proximidade com a Basílica de São Pedro, e as grandes celebrações na Basílica, a participação nas várias uUiversidades, porque os campos de saber misturam-se  – à mesa falamos do que se aprende, do que dises o prpofessor, por exemplo. E a própria visão de Igreja e da sua catolicidade confere-lhe um olhar de universalidade”, explica.

O padre José Fernando Caldas nasceu em Paris e cresceu com naturalidade junto da comunidade francesa, mas aos sete anos decidiu vir para Portugal, regressar a Santa Maria da Gave, no Vale do Mouro, terras da serra da Peneda-Gerês, para encontrar junto da sua avó materna, Maria da Conceição, a vida “permeada por Deus e ao ritmo da natureza”.

A minha avó não tinha nenhum tipo de formação, nunca frequentou a escola, aprendeu a ler e a escrever por ela própria, era uma autodidata, e tinha um sentido do mistério de Deus.Tudo parecia que andava ao ritmo de Deus: desde manhã, até ao deitar, ao meter uma fornada de pão ao forno, ao começar o trabalho de um campo, ao ter uma contrariedade da vida presente como sacrifício de Deus, parece que toda a sua vida era permeada naturalmente por Deus”.

O ritmo da natureza, a vida em “ação de graças” da avó, fez despertar na criança José Fernando Caldas o sentido religioso e fazer crescer a vontade de ser padre.

Foto: Pontifício Colégio Português

“Foi talvez a pessoa que mais me marcou no meu crescimento humano e também no discernimento sacerdotal. O D. José Cordeiro, de quem eu sou amigo, o arcebispo do Braga, diz uma frase que também acho que tem sentido: diz que a vocação de um padre nasce sempre no coração da mãe, primeiro no coração da mãe. O meu nasceutambém no coração da minha avó”, regista.

Ordenado padre em 1998, o percurso enquanto pároco desenvolveu-se no parque nacional da Peneda-Gerês, em comunidades Soajo, Gavieira e Ermelo, de Arcos de Alves, antes de em 2003, desafiado pelo então bispo de Viana do Castelo, D. José Pedreira, ser enviado para Roma para estudar Ciências da Educação.

A conversa com o padre José Fernando Caldas pode ser acompanhada esta noite no programa ECCLESIA, na Antena 1, pouco depois da meia-noite e fica disponível online no portal de informação e no podcast ‘Alarga a tua tenda’.

LS

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