Abusos Sexuais: Conferência Episcopal reafirma empenho em política de «tolerância zero» (c/vídeo)

Bispos esperam indicações da cimeira que o Papa promove no Vaticano, de 21 a 24 de fevereiro

Fátima, 12 fev 2019 (Ecclesia) – O porta-voz da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) disse hoje em Fátima que os bispos católicos estão empenhados numa política de “tolerância zero” para situações de abuso sexuais, falando em cerca de uma dezena de casos analisados desde 2001.

“Como o Papa diz, temos de ter tolerância zero neste drama e, nesse sentido, esta escuta, todo o processo que se deve ter em consideração, passa sobretudo pelas dioceses, porque é aí que as pessoas vivem. Se houver denúncias, têm de ser encaminhadas para quem de direito, nas próprias dioceses”, referiu o padre Manuel Barbosa, no final do encontro do Conselho Permanente da CEP, em conferência de imprensa.

O Papa Francisco convocou os presidentes das conferências episcopais para um encontro no Vaticano, de 21 a 24 de fevereiro de 2019, dedicado ao tema da proteção dos menores.

“Os bispos, incluindo D. Manuel Clemente, como presidente da Conferência Episcopal, continuam sempre com disponibilidade ativa, repito – queria que fosse bem interpretado nessa expressão -, para escutar as presumíveis vítimas de abusos sexuais por parte dos clérigos, segundo as diretrizes de 2012”, assinalou o secretário da CEP.

O padre Manuel Barbosa referiu que a preparação para a cimeira decorreu em contacto direto com a Santa Sé, incluindo o envio de um questionário à comissão organizadora.

Segundo este responsável, “os casos que são tratados no âmbito das dioceses, nos tribunais eclesiásticos, são pouquíssimos”, cerca de uma dezena, desde 2001.

“Desses pouquíssimos, em mais de metade a investigação prévia levou o caso a parar, não havia fundamentos”, prosseguiu.

O porta-voz da CEP, considera que “se há mais casos, se há denúncias, é preciso apresentá-las a quem de direito”, realçando que “quem quiser ser escutado, pode ser escutado”, pelos seus bispos.

“Nem que seja um caso só já é grave, é gravíssimo”, observou.

O responsável foi questionado sobre a comunicação às autoridades judiciais, destes casos, precisando que a mesma depende, muitas vezes, da “vontade das famílias”.

A CEP, acrescentou, tem feito um trabalho de “coordenação” e de “orientações comuns, esperando indicações da Santa Sé para a ação futura.

“Os casos têm de ser levados até ao fim e tem de ser condenado qualquer caso de abuso que seja provado”, concluiu.

No último dia 28 de janeiro, o Papa disse que há expectativas “exageradas” em relação à cimeira de presidentes de conferências episcopais, sobre a questão dos abusos sexuais, considerando que a prioridade é uma tomada de consciência sobre este “sofrimento terrível”.

O encontro inédito quer responder a dúvidas que têm surgido neste campo.

“Percebemos que alguns bispos não percebiam bem, não sabiam o que fazer”, observou o Papa, recordando um encontro com o seu conselho consultivo de cardeais, o chamado ‘C9’.

Neste contexto, acrescentou, surgiu a ideia de “dar uma ‘catequese’ sobre este problema às conferências episcopais”.

A Santa Sé está a trabalhar na elaboração de “programas gerais”, com “protocolos claros”, para que cheguem a todas as conferencias episcopais, precisando “o que deve fazer o bispo, o arcebispo metropolita, o presidente da conferência episcopal”.

O programa da cimeira, adiantou o Papa, inclui momentos de oração, testemunhos de vítimas e liturgias penitenciais para “pedir perdão”.

O padre Padre Hans Zollner, presidente do Centro para a Proteção de Menores da Universidade Pontifícia Gregoriana e membro da comissão organizadora do evento, disse hoje aos jornalistas que durante o encontro “serão discutidas as responsabilidades pastorais e jurídicas do bispo” e o “tema da transparência”.

“Transparência interna, naturalmente, mas também para com as autoridades estatais e com todo o povo de Deus”, acrescentou.

CB/OC 

A Conferência Episcopal Portuguesa aprovou em 2012 um conjunto de diretrizes para casos de abuso sexual de menores, em coordenação com as orientações da Santa Sé.

O ‘guia’, dividido em 51 pontos, respondeu a uma exigência feita pela Congregação da Doutrina da Fé, que em 2011 solicitou aos episcopados católicos de todo o mundo a elaboração de diretivas próprias para tratar os casos de abusos sexuais.

 

 

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