25 de Abril: «O mundo precisa de líderes respeitados e inspiradores que estejam à altura dos acontecimentos» – José Pedro Castanheira

Jornalista, que integrou a Juventude Universitária Católica, recuperou diálogo entre filósofo marxista e padre católico nos anos 70 

Agência ECCLESIA/HM

Lisboa, 10 abr 2024 (Ecclesia) – O jornalista José Pedro Castanheira disse à Agência ECCLESIA que faltam líderes inspiradores, “respeitados e que estejam à altura dos acontecimentos”, que na sociedade civil e no mundo político sejam capazes de “mobilizar”.

“Temos dois grandes líderes mundiais – o português António Guterres e o Papa Francisco – mas na sociedade civil e no mundo político fazem-nos falta figuras que sejam capazes de mobilizar, de congregar, de juntar; fazem-nos falta grandes figuras, grandes líderes mundiais”, indica o jornalista.

“São os povos que, obviamente, fazem o essencial da história, mas os povos precisam, de vez em quando, ser conduzidos; é preciso que haja líderes respeitados e que estejam à altura dos acontecimentos”, acrescenta ainda o coordenador do livro «Cristianismo e Marxismo em debate nos anos 70».

A publicação, agora editada pela Universidade Católica Portuguesa, recupera o colóquio, organizado pela Juventude Universitária Católica (JUC), que juntou a 19 de janeiro de 1974 o filósofo Mário Sottomayor Cardia e o padre católico João Resina num debate em torno do «Significado político e teológico dos Direitos do Homem».

O jornalista, que iniciou a sua carreia profissional em 1974, regista o inevitável diálogo que aquele momento requeria entre “cristãos e marxistas”.

Não nos podemos esquecer que estávamos em plena Guerra Fria, onde a desconfiança, onde a intolerância, a ausência de pluralismo, onde a falta de liberdade eram marcantes. Eram dois mundos que se digladiavam entre si, que desconfiavam, que conspiravam um contra o outro. E a procura de uma alternativa viável, real, efetiva, impunha-se baseada na liberdade, no convívio e na tolerância – e tolerância passou a ser uma palavra absolutamente chave – permitiu, primeiro em universidades e depois, se foi alargando. Começou a colocar-se a questão: «Será possível um cristão ou um católico participar ou militar em partidos de esquerda, em partidos socialistas, mesmo em partidos comunistas? Isso é ou não compatível com a fé católica, é ou não tolerado pela hierarquia da Igreja, pelo Vaticano?»”.

José Pedro Castanheira regista que estes espaços “de discussão, reflexão, debate”, proporcionados pela JUC agregaram pessoas “sem qualquer referência à fé católica” mas apostados em dialogar, com tolerância e respeito por ideias diferentes.

A falta de liberdade e a guerra colonial que obrigava jovens “a quatro anos em África, e conduziu à fuga, apenas por motivos políticos de muitos”, congregava a juventude que se inspirava em leituras do Concílio Vaticano II, da Declaração Universal dos Direitos Humanos e da encíclica do Papa João XXIII ‘Pacem in Terris’.

É claro que a situação atual, evidentemente, é completamente diferente mas nós estamos com um problema muito delicado em Portugal e que tem a ver com a absoluta necessidade de haver convívio tolerante e pluralista na sociedade portuguesa e nós neste momento não o temos. O pluralismo e a tolerância, para mim, são vitais na vida em sociedade. E há que confiar no jornalismo e nos jornalistas, que são, do ponto de vista profissional, os profissionais mais adequados para dar essa informação, que tem que ser uma informação trabalhada, completada, contraditada”.

José Pedro Castanheira lamenta a atual “falta de confiança entre a opinião pública, os jornalistas e o jornalismo”.

A conversa com José Pedro Castanheira pode ser acompanhada esta noite na Antena 1, pouco depois da meia-noite, ficando disponível no portal de informação e no podcast «Alarga a tua tenda».

LS

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