25 de Abril/50 anos: Liberdade e participação são o «referencial essencial do viver em comum» (c/vídeo)

Historiador António Matos Ferreira afirma que «a possibilidade de participar» provocou alguma «disfuncionalidade»

Lisboa, 25 abr 2024 (Ecclesia) – O historiador António Matos Ferreira afirmou em entrevista à Agência ECCLESIA que, com a mudança de regime no dia 25 de Abril, a liberdade passou a ser “o referencial essencial do viver em comum”, ligada à “possibilidade de participar”.

“Nós falamos da liberdade, mas a liberdade está ligada à possibilidade de participar. Portanto, esta correlação entre a liberdade de agir e a possibilidade que, no agir, as pessoas têm de intervir, e de intervir de maneira diferente, é efetivamente a grande questão do impasse em que se encontrava o regime e da disfuncionalidade que o regime já encontrava com a Igreja”, afirma António Matos Ferreira.

O historiador considera que a concretização da liberdade e da participação, no contexto religioso, não acontece só em “coisas ideológicas”, mas em situações práticas, na altura, como quando “o padre que se recusava a ser capelão militar, que, em certas terras onde havia uma elite católica completamente ligada ao regime, se recusava a fazer procissões”.

António Matos Ferreira evoca o 25 de Abril como “um dia” ou “uma madrugada”, a que se seguiu “um momento de explosão” pela destituição do regime que existia e “tinha a sua legitimidade” no contexto internacional.

“O golpe do 25 de Abril não eram favas contadas”, afirma, lembrando as “circunstâncias muito excecionais, muito complexas” em que Portugal se encontrava, num governo reconhecido e que era preciso mudar para ”passar de uma legitimidade a outra, que se queria democrática”.

“E porquê democrática? Porque havia uma ideia central que eu penso que é o que caracteriza essa mutação, que é: a liberdade como o referencial essencial do viver em comum”, afirmou.

A liberdade era fundamentalmente a possibilidade das pessoas agirem, participarem, determinarem a sua consciência e, portanto, isso afetou muita coisa”.

António Matos Ferreira refere que ter na liberdade o “referencial essencial do viver em comum” tem-se refletido em muitos setores da sociedade até ao presente, também no âmbito religioso.

“O 25 de Abril acelerou também um processo de mutação que se sentia na sociedade no que dizia respeito à vivência religiosa, mais do que à religião abstratamente, à vivência religiosa”, afirmou.

Na entrevista emitida hoje no Programa Ecclesia, pelas 15h10, na RTP2, o historiador analisa também a participação dos católicos na democracia inaugurada com a Revolução de Abril, referida pela Conferência Episcopal Portuguesa em documentos que publicou ainda antes do 25 de Abril e depois numa Nota Pastoral, no mês de julho de 1974.

Foto: Agência ECCLESIA/OC

“O que é talvez novo é essa desvalorização, interdição quase, de que nenhum partido deve arrugar-se de representar o pensamento católico, a posição católica”, afirmou.

António Matos Ferreira lembra o posicionamento da Conferência Episcopal Portuguesa, na década de 70 do século XX, aponta para “uma abertura à cooperação dos católicos fora da família dita democrata cristã” e reconhece que “os católicos podem participar em todos aqueles partidos que não agridam a religião e a Igreja”.

Na entrevista à Agência ECCLESIA, o historiador apresenta indicadores de “pessoas, grupos, dinâmicas” do meio católico que, “lentamente”, constituem um “posicionamento que é não só dissidente do regime, mas claramente defensor de que é preciso mudar o regime” e valoriza o pontificado de Paulo VI, que dá a esse posicionamento um “contributo fundamental”.

Assinalam-se neste dia 25 de Abril os 50 anos do golpe militar que pôs fim a 48 anos de ditadura e a 13 anos de guerra colonial e instaurou a democracia na sociedade portuguesa, com a promessa de eleições livres.

Para assinalar os 50 anos da Revolução de Abril, a Agência ECCLESIA e o Centro de Estudos de História Religiosa da Universidade Católica Portuguesa publicaram a obra “25 de Abril. Permanências, ruturas e composições”, que se encontra à venda e pode ser pedida através do e-mail cep.sgeral@ecclesia.pt.

PR

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