Vida Consagrada: Da vida académica para o convento, irmã Rita Balau diz que hoje é mais livre

A caminho de Timor, com a profissão religiosa feita há um mês, a jovem que quis viver tudo deu uma volta de «180 graus» e hoje é religiosa Concepcionista ao Serviço dos Pobres

Foto: Agência ECCLESIA/MC

Lisboa, 11 out 2023 (Ecclesia) – A irmã Rita Balau, das Concepcionistas ao Serviço dos Pobres, vê na Vida Consagrada uma escolha livre e surpreendente para quem, durante o tempo da Faculdade, em Viseu, envolvida na tuna e na associação de estudantes, consideraria “uma parvoíce” se alguém lhe falasse de “pobreza, castidade e obediência”.

“Se alguém me falasse de pobreza, castidade e obediência, no tempo da faculdade, era para mim uma parvoíce. O que é isto? Agora aprendi que sou muito mais livre. Quando cheguei ao noviciado uma colega minha disse-me: «Ou cabes tu ou cabem as tuas malas dentro do quarto». Eu entrei no convento mas o despojamento é um caminho, também espiritual”, conta à Agência ECCLESIA a jovem irmã de 31 anos, que fez a profissão religiosa temporária no dia 9 de setembro.

A jovem Rita Balau cresceu na Guarda, com as referências cristãs de um “Deus inacessível, muito teórico, pouco experienciado”.

“Era pouco livre na altura. É engraçado, agora que estou no convento, acho que antes é que não era livre. Olhava muito para o que os outros pensavam. Deus tocou-me na relação que eu permiti ter com Ele, porque Ele chegou antes”, indica.

O sonho de estudar fora da Guarda, ser livre e dona das suas escolhas, levou-a a escolher o Algarve, mas acabou por ficar em Viseu a estudar engenharia alimentar.

“Eu queria muito libertar-me dos meus pais e sabia que eu queria viver a experiência académica ao máximo, passar por tudo o que pudesse. Fui para a tuna e integrei a associação de estudantes. Não havia espaço para Deus porque eu não parava. Na faculdade a minha relação com Ele era um negócio”, recorda.

No regresso à Guarda, “autossuficiente” e cheia de si, tem à sua espera o desemprego e a fragilidade da avó que acompanhou na doença e lhe mostrou o amor de Deus.

Nessa altura, Rita Balau foi desafiada a dar catequese, “depois de anos sem estar envolvida na paróquia”, e, mais tarde, é convidada a integrar a equipa diocesana de Pastoral Juvenil: “A catequese, às crianças, no fim-de-semana, tornou-se o momento alto da minha semana”.

Em 2019, a Pastoral Juvenil propõe aos jovens da diocese passarem uns dias junto de uma congregação religiosa; a jovem Rita Balau, sem qualquer intenção ou chamamento, decide participar e viver a experiência, em Elvas, junto das Irmãs Concepcionistas ao Serviço dos Pobres, e ultrapassar os “muitos preconceitos sobre a vida religiosa” que tinha.

Cativada pela forma como a irmã Joana falou da missão e do carisma da congregação, decidi ir. Quando entrei e me indicaram a cela onde ia ficar quis vir-me embora mais cedo, mas a verdade é que me encantei com a alegria, o encontro de culturas das irmãs de diversas nacionalidades, a espontaneidade. Maravilhou-me. Senti-me muito em paz e feliz, e percebi que algo estava ali a passar-se. Estava fora da minha zona de conforto, mas sentia-me bem”.

Houve depois um caminho de discernimento que levou à sua entrada no noviciado na Congregação, e no dia 9 de setembro fez os votos para a profissão religiosa temporária como; o caminho levou-a agora a Timor onde, ainda sem saber qual a missão pastoral, vai de coração aberto.

“Vou com medo, que é racional, mas com muita vontade de me dar, de ser acolhida pelo povo, com a disponibilidade para deixar que Ele faça em mim”, reconhece.

No dia 9 de setembro vestiu o hábito azul, com a cor dos pobres, que hoje entende ser uma “segunda pele” que se adequa ao seu corpo.

“Não foi fácil vestir o hábito, foi um desafio entrar com hábito vestido, mas hoje vejo-o como uma grande beleza. Recorda o meu sim, Aquele para quem vivo e a quem entrego a minha vida. No início pensava que me ia fazer confusão, mas hoje vejo-o com grande beleza”, explica.

Confrontada com o «sim» que deu, a irmã Rita Balau confirma ter a certeza do «sim» que deu, fruto do caminho que realizou.

“Hoje tenho a certeza; amanhã não sei. Mas peço que todos os dias sejam um «hoje» e todos os dias eu diga sim”, finaliza.

A conversa com a irmã Rita Balau pode ser acompanhada esta noite no programa ECCLESIA na Antena 1, pouco depois da meia-noite, e escutada posteriormente no portal de informação e no podcast «Alarga a tua tenda».

LS

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