Vaticano: Francisco desafia Igreja Católica a dar protagonismo às novas gerações, das paróquias às redes sociais

Novo documento do Papa admite falhas na relação com os jovens e pede mais abertura

Foto: Ricardo Perna/Família Cristã

Cidade do Vaticano, 02 abr 2019 (Ecclesia) – O Papa admite num novo documento dedicado aos jovens que a Igreja Católica tem cometido falhas na relação com as novas gerações, pedindo maior abertura e respostas diferentes.

“Precisamos de uma pastoral popular juvenil que abra portas e ofereça espaço a todos e a cada um com as suas dúvidas, os seus traumas, os seus problemas e a sua busca de identidade, os seus erros, a sua história, as suas experiências de pecado e todas as suas dificuldades”, escreve, na exortação apostólica ‘Cristo Vive’, divulgada hoje pelo Vaticano.

O texto dá continuidade à assembleia do Sínodo dos Bispos que em outubro de 2018 debateu a relação dos jovens com a Igreja Católica.

Francisco sublinha o “embate das mudanças sociais e culturais” na ação da Igreja Católica, observando que os jovens, “muitas vezes não encontram respostas para as suas inquietações, necessidades, problemáticas e feridas”.

O documento defende a necessidade de “novos estilos e novas estratégias”, que deem protagonismo aos mais novos em campos como as redes sociais.

“Sabem organizar festivais, provas desportivas e até sabem evangelizar nas redes sociais através de mensagens, canções, vídeos e outras intervenções. Só é preciso estimular os jovens e dar-lhes liberdade para que eles se entusiasmem missionando nos âmbitos juvenis”, precisa o Papa.

Para Francisco, é indispensável oferecer lugares próprios aos jovens, onde possam “entrar e sair com liberdade”.

A pastoral juvenil precisa de adquirir outra flexibilidade e de convocar os jovens para eventos, para acontecimentos que de vez em quando lhes ofereçam um lugar onde não só recebam formação, mas que também lhes permitam partilhar a vida, celebrar, cantar, escutar testemunhos reais e experimentar o encontro comunitário com o Deus vivo”.

O texto destaca o crescimento de associações e movimentos com características predominantemente juvenis, convidando a aprofundar a participação destes na “pastoral de conjunto da Igreja”.

“Os universitários podem unir-se de maneira interdisciplinar para aplicar o seu saber à resolução de problemas sociais e, nessa missão, podem trabalhar lado a lado com jovens de outras Igrejas ou de outras religiões”, aponta, como exemplo.

Como “grandes linhas de ação”, o pontífice apresenta o “chamamento” para a experiência religioso e o desenvolvimento de um “caminho de amadurecimento” daqueles que já fizeram essa experiência.

A formação “doutrinal e moral”, observa, não dever ser uma “obsessão”, sendo prioritário “suscitar e enraizar as grandes experiências que sustentam a vida cristã”.

Francisco destaca a importância da educação e da escola católica como “espaço de evangelização”, mas rejeita uma pastoral concentrada na “instrução religiosa”, sem “experiências de fé perduráveis”.

“Muitos jovens são capazes de aprender a saborear o silêncio e a intimidade com Deus. Também têm aumentado os grupos que se reúnem para adorar o Santíssimo ou para rezar com a Palavra de Deus. Não devemos menosprezar os jovens como se fossem incapazes de se abrir a propostas contemplativas”, alerta.

O Papa destaca a importância de valorizar iniciativas de serviço ao próximo, as expressões artísticas, a prática desportiva ou o contacto com a natureza, como acontece com os Escuteiros.

Foto: Ricardo Perna/Família Cristã

A exortação advoga uma “pastoral popular juvenil”, mais “ampla e flexível”, contrariando uma proposta católica “separada das culturas juvenis e apta apenas para uma elite juvenil cristã”.

Além da pastoral popular juvenil, o pontífice fala numa “missão popular, incontrolável”, que rompe os esquemas eclesiásticos.

“Os jovens, porém, são capazes de criar novas formas de missão, nos âmbitos mais diversos. Por exemplo, como eles se movem tão bem nas redes sociais, devem ser convocados para que as encham de Deus, de fraternidade e de compromisso”, precisa.

O texto propõe a construção do que denomina como “amizade social”, com o trabalho junto de idosos, doentes ou pobres, em iniciativas que já envolvem muitos jovens.

“Seria bom que essa energia comunitária se aplicasse não só a ações esporádicas, mas de uma forma estável, com objetivos claros e uma boa organização, que ajude a levar a cabo uma obra mais continuada e eficiente”, realça.

Francisco considera ainda necessário que a pastoral juvenil e a pastoral familiar tenham uma “continuidade natural”, trabalhando de maneira “coordenada e integrada”.

A Exortação apostólica pós-sinodal ‘Cristo Vive’, dedicada aos jovens, foi assinada a 25 de março, no santuário mariano do Loreto (Itália), na sequência do Sínodo dos Bispos dedicado às novas gerações, que decorreu em outubro de 2018, desejando que a Igreja ouça os jovens e os ajude a encontrar o seu caminho de vida.

OC

“No Sínodo, um dos jovens auditores, proveniente das ilhas Samoa, disse que a Igreja é uma canoa, na qual os velhos ajudam a manter a direção, interpretando a posição das estrelas, e os jovens remam com força, imaginado aquilo que os espera mais além”
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