Sínodo/Prisões: Reclusos pedem que os tratem «pelo nome» – Irmã Maria de Fátima Magalhães

Pastoral Penitenciária de Portugal quer levar processo lançado pelo Papa às cadeias do país

Foto: Agência ECCLESIA/CB

Fátima, 02 abr 2022 (Ecclesia) – A irmã Maria de Fátima Magalhães, da Companhia de Santa Teresa Jesus, disse que está a viver o processo sinodal, lançado pelo Papa, com os presos da Cadeia de Elvas.

“Já fomos falando com os reclusos com quem contactamos todos os sábados, na orientação espiritual e religiosa, do sínodo. Começamos por descrever o que significava sínodo, por mostrar o logotipo, que começa com os pequeninos à frente, as crianças, os frágeis, os pobres, os doentes, e que a Igreja estava no meio, não ia à frente, nem atrás”, explicou a religiosa em declarações à Agência ECCLESIA, no encontro da Pastoral Penitenciária de Portugal, que se conclui hoje, em Fátima.

Neste partilhar que a “Igreja se preocupa” com os reclusos e envolver a Cadeia de Elvas (na estrada para Badajoz) no processo sinodal, o grupo ‘Mateus 25’, do Movimento Teresiano de Apostolado (MTA), também já fez “algumas perguntas”.

A irmã Maria de Fátima Magalhães lembra que perguntaram o que é que pediam se fossem a uma reunião sobre o sínodo no exterior, ou até se estivessem em Roma ou encontrassem o Papa, e eles “foram muito perentórios” na resposta: “Que nos tratem pelo nome”.

“Eu já estive doente e ninguém me chama uma ex-doente. São pessoas que passaram pela cadeia, que tiveram uma experiência negativa, tiveram de cumprir uma pena, mas são pessoas como nós. São pessoas chamadas à dignidade e à felicidade”, desenvolveu a religiosa teresiana, em serviço na Arquidiocese de Évora.

A Pastoral Penitenciária de Portugal (PPP), departamento da Conferência Episcopal Portuguesa, está a dinamizar desde sexta-feira o seu 17.º encontro nacional, com o tema ‘Eu sou o caminho: Comunhão, Participação e Missão’.

Foto: Agência ECCLESIA/CB

Jorge Lima, visitador no Hospital Prisional de São João de Deus, em Caxias, assinala que o sacerdote, que também é o seu pároco em Paço de Arcos, disse aos grupos para não serem “paternalistas”, falar com os reclusos sem pensar que sabem o que eles querem, e explicar “o sínodo”: “Dentro da limitação que só temos duas horas por semana para fazer isto”.

O entrevistado é visitador no hospital prisional há cerca de 30 anos, e observa que são pessoas que “são duas vezes presas”, pelo que fizeram e porque “estão doentes e situações terminais” no único estabelecimento do género em Portugal.

“A nossa experiência é ajudá-los, sobretudo fazê-los sentir que há ‘gente cá foro’ que se preocupa com eles. Por outro lado, cá fora, lembrar que estão pessoas lá dentro que são tão humanas como nós e precisam de ser no mínimo lembradas”, acrescentou à Agência ECCLESIA.

Neste contexto, o visitador prisional salienta que “é imensamente mais fácil falar” com as pessoas que estão presas, “porque estão ansiosos de falar, ansiosos de ouvir”, e podiam estar tão necessitados de falar que não ouvissem os voluntários, “mas ouvem-nos”, respeitam “profundamente” e criam relações de verdadeira amizade.

“Cá fora, às vezes falamos nisto e as pessoas assobiam para o lado. Não estou a fazer um juízo de valor mas sentimos que a relação dentro de uma prisão é muito mais autêntica do que numa sociedade que está cada vez mais plástica”, explicou.

Jorge Lima assinala que o grupo de visitadores do Hospital Prisional de São João de Deus é católico mas procura “não ser proselitista”, e quando chegam ao pé de um preso não vão catequiza-lo mas “falar sobre futebol e ver as fotografias dos filhos”, e se a pessoa tentar perceber que são “uns tipos fixes, talvez se vá perguntar” que são, e fazem o convite à oração.

Foto: Agência ECCLESIA/CB

Já Carolina Freitas, com 31 anos, ainda vai começar a fazer visitas à prisão neste âmbito pastoral da Igreja, na Diocese de Leiria-Fátima, onde vai poder” aliar o conhecimento àquilo que é a espiritualidade, o discernimento”, e toda esta vertente da alma e da parte humana.

“Tenho muito esta parte mais profissional e espero que a pastoral dê este corpo que às vezes falta. A prisão pode ser vista de uma forma muito fria, mais isolada e a pastoral parece-me que pode ser o futuro para aquela humanidade que tanto queremos mesmo dentro de grades; Aqui queremos ouvir o que eles nos quiserem dar”, explicou à Agência ECCLESIA.

A jovem, que vive em Fátima, tem formação superior a nível do crime e da reinserção social, desenvolvendo a tese de mestrado, que remete para a importância da alimentação: “É à volta de uma mesa que também captamos muitas das proximidades dos reclusos em ambiente de contentor, de instituições totalitárias, todo ele muito fechado.”

“Não tenho grandes expectativas de ver uma dimensão totalmente diferente daquilo que é o ser humano, vamos provavelmente ver aquilo que vi ao longo da minha parte investigativa, mas vou ver provavelmente a maior vulnerabilidade do ser humano, a sombra”, desenvolveu.

CB/OC

Portugal: Pastoral Penitenciária leva caminho sinodal até reclusos

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