Sínodo 2021-2024: Francisco pede espaço para «vozes dos jovens, das mulheres, dos pobres»

Papa encontrou-se com bispos e responsáveis da Itália, recordando os que «lutam para ver reconhecida a sua presença» na Igreja

Cidade do Vaticano, 25 mai 2023 (Ecclesia) – O Papa disse hoje no Vaticano que o percurso sinodal lançado em 2021, na Igreja Católica, deve dar espaço às “vozes dos jovens, das mulheres, dos pobres” e a todos os que lutam para ver “reconhecida” a sua presença.

“Temos de interrogar-nos sobre quanto espaço abrimos e quanto realmente escutamos, nas nossas comunidades, as vozes dos jovens, das mulheres, dos pobres, daqueles que estão dececionados, daqueles que foram feridos nas suas vidas e que estão zangados com a Igreja”, referiu, falando aos participantes no encontro nacional dos representantes diocesanos do Caminho Sinodal Italiano.

“Enquanto a sua presença for uma nota esporádica, em toda a vida eclesial, a Igreja não será sinodal, será uma Igreja de poucos”, acrescentou Francisco, falando no auditório Paulo VI.

Perante os membros da Conferência Episcopal Italiana e outros responsáveis católicos, o Papa mostrou-se crítico de uma “Igreja sobrecarregada de estruturas, de burocracia, de formalismo”, pedindo que as comunidades católicas se abram “àqueles que ainda lutam para ver reconhecida a sua presença na Igreja, aos que não têm voz, àqueles cujas vozes são abafadas, senão mesmo silenciadas ou ignoradas”.

A intervenção deixou uma palavra de solidariedade aos que se “sentem desadequados, talvez por terem percursos de vida difíceis ou complexos”, considerando que “muitas vezes são excomungados a priori”.

Francisco defendeu a inclusão de “todos”, na Igreja, “doentes, justos, pecadores, todos”.

O Papa deixou um apelo a aumentar a “corresponsabilidade eclesial”, para que todos participem “ativamente na vida e na missão da Igreja”.

Precisamos de comunidades cristãs nas quais o espaço se alargue, onde todos possam se sentir em casa, onde as estruturas e os meios pastorais favoreçam, não a criação de pequenos grupos, mas a alegria de sentir-se corresponsáveis”.

O discurso, transmitido em direto pelos canais do Vaticano, aludiu à “doença” da autorreferencialidade e ao que Francisco designou como “neoclericalismo de defesa”.

“O Sínodo chama-nos a ser uma Igreja que caminha com alegria, humildade e criatividade no nosso tempo, conscientes de que todos somos vulneráveis e que precisamos uns dos outros”, indicou o Papa, pedindo que o tema da “vulnerabilidade” seja levado a sério no Caminho Sinodal.

Francisco dedicou uma reflexão ao trabalho da Igreja no mundo das prisões, que considerou essencial para a “escuta de uma humanidade ferida”, superando os “preconceitos” e o “medo”.

No final do seu discurso, o Papa gracejou com uma expressão que lhe foi dirigida, ao entrar para o encontro, sobre a “desordem” criada por este caminho do Sínodo 2021-2024, sustentando que o Espírito Santo “é o protagonista”.

“Ele é o protagonista do processo sinodal: é Ele quem abre à escuta as pessoas e as comunidades; é Ele quem torna o diálogo autêntico e fecundo; é Ele quem ilumina o discernimento; é Ele quem dirige as escolhas e decisões. Acima de tudo, é Ele quem cria a harmonia”, declarou.

OC

A primeira sessão da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos vai decorrer de 4 a 29 de outubro de 2023; Francisco decidiu que a mesma terá uma segunda etapa, em 2024.

Na sequência de uma inédita consulta global às comunidades católicas, lançada pelo Papa em outubro de 2021, sete assembleias continentais aconteceram entre fevereiro e março deste ano, com a seguinte divisão: África e Madagáscar (SECAM), América Latina e Caraíbas (CELAM), América do Norte (EUA/Canadá), Ásia (FABC), Europa (CCEE), Médio Oriente (com a contribuição das Igrejas Católicas orientais) e Oceânia (FCBCO).

O Sínodo dos Bispos pode ser definido, em termos gerais, como uma assembleia de representantes dos episcopados católicos de todo o mundo, a que se juntam peritos e outros convidados, com a tarefa ajudar o Papa no governo da Igreja.

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