Sínodo 2019: Vaticano denuncia exploração da Amazónia e violação dos direitos dos povos indígenas

Documento preparatório para assembleia especial de bispos católicos critica «interesses económicos» que ameaçam as pessoas e a natureza

Cidade do Vaticano, 08 jun 2018 (Ecclesia) – O Vaticano denuncia num novo documento sobre a Amazónia a exploração levada a cabo por “interesses económicos” que ameaçam a natureza e os direitos dos povos indígenas.

“A riqueza da selva e dos rios da Amazónia está ameaçada pelos grandes interesses económicos que se alastram sobre diferentes regiões do território. Tais interesses provocam, entre outras coisas, a intensificação do desmatamento indiscriminado na selva, a contaminação dos rios, lagos e afluentes”, assinala o texto preparatório da assembleia especial do Sínodo dos Bispos sobre a Amazónia, que o Papa convocou para 2019.

O texto, divulgado esta manhã pela sala de imprensa da Santa Sé, defende que este Sínodo especial deve “encontrar novos caminhos para fazer crescer o rosto amazónico da Igreja e também para responder às situações de injustiça da região”.

Entre as situações denunciadas elenca-se o “neocolonialismo configurado pelas indústrias extrativistas, pelos projetos de infraestrutura que destroem sua biodiversidade e pela imposição de modelos culturais e económicos estranhos à vida dos povos.

A assembleia de bispos foi anunciada pelo Papa a 15 de outubro de 2017 e vai refletir sobre o tema ‘Novos caminhos para a Igreja e para uma ecologia integral se realizará em outubro de 2019’.

“As relações harmoniosas entre o Deus Criador, os seres humanos e a natureza estão quebradas por causa dos efeitos nocivos do neoextrativismo e por pressão dos grandes interesses económicos que exploram o petróleo, o gás, a madeira, o ouro, e pela construção de obras de infraestrutura e pelas monoculturas agroindustriais”.

O documento do Vaticano alerta para as consequências da “cultura dominante de consumo e descarte” sobre a natureza, que tem gerado uma “profunda crise”.

A Igreja Católica atua na região através da Rede Eclesial Pan-Amazónica, REPAM, que inclui representantes de comunidades católicas de nove territórios: Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Guiana-Francesa, Peru, Suriname e Venezuela.

“A Amazónia, uma região com rica biodiversidade, é multiétnica, pluricultural e plurirreligiosa, um espelho de toda a humanidade que, em defesa da vida, exige mudanças estruturais e pessoais de todos os seres humanos, dos Estados e da Igreja”, assinala o texto preparatório do Sínodo de 2019.

A bacia amazónica é apresentada como uma das “maiores reservas de biodiversidade” do planeta, cujos povos são hoje marcados pela “pobreza produzida ao largo da história” e da “mudança de valores decorrentes da economia mundial, na qual prevalece o valor lucrativo sobre a dignidade humana”.

“Um exemplo disso é o crescimento dramático do tráfico de pessoas, especialmente o de mulheres, para fins de exploração sexual e comercial”, assinala a Santa Sé.

O documento alude ainda à necessidade de “regularização de terras e do reconhecimento de sua propriedade ancestral e coletiva” por parte dos povos indígenas na Pan-Amazónia.

“Proteger os povos indígenas e seus territórios é uma exigência ética fundamental e um compromisso básico dos direitos humanos”, sustenta o Vaticano.

O Sínodo dos Bispos pode ser definido, em termos gerais, como uma assembleia consultiva de representantes dos episcopados católicos de todo o mundo, a que se juntam peritos e outros convidados, com a tarefa ajudar o Papa no governo da Igreja.

Até hoje houve 14 assembleias gerais ordinárias e três extraordinárias, as últimas das quais dedicadas à Família (2014 e 2015); em outubro, o Vaticano recebe uma assembleia ordinária do Sínodo, sobre os jovens.

OC

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