República: Expulsão dos Jesuítas de Timor

D. Ximenes Belo recorda saída forçada da Companhia de Jesus e das Irmãs Canossianas do território timorense, na sequência da implantação da República em Portugal

A expulsão dos Jesuítas e das Irmãs Canossianas de Timor, na sequência da implantação da República ocorrida a 5 de Outubro de 1910, contribuiu para que a população local se amotinasse contra os portugueses.

Segundo D. Ximenes Belo, administrador apostólico de Díli entre 1988 e 2002, a saída forçada daquelas congregações católicas “criou descontentamento na sociedade timorense, especialmente nos círculos dos régulos indígenas”, conduzindo alguns à insurreição.

“A célebre revolta de Manufahi de 1911 era uma das consequências da mudança do regime monárquico para o regime republicano”, assinala o prelado em texto publicado na Agência ECCLESIA.

A saída forçada também implicou consequências no funcionamento dos estabelecimentos de ensino até então geridos pelos religiosos: a Companhia de Jesus tinha no seu colégio “76 alunos internos, que ficaram abandonados a si próprios”, enquanto que a escola das Irmãs Canossianas era responsável por 62 raparigas.

“Com dor e tristeza, os jesuítas tiveram de abandonar a florescente missão por eles iniciada em finais do século XIX”, recorda o prelado, acrescentando que o decreto de expulsão foi publicado a 25 de Novembro de 1910 e a partida ocorreu no dia 9 de Dezembro.

Após a saída, o Governo tomou posse da igreja, residência dos religiosos e estabelecimentos de ensino: “Os funcionários do estado foram ao Colégio masculino e retiraram as mobílias e materiais de construção ali existentes, deixando aos padres seculares a casa para nela habitarem e dar aulas aos alunos”, escreve D. Ximenes Belo.

A principal consequência da expulsão dos Jesuítas foi a diminuição do pessoal afecto à evangelização das populações: os poucos padres seculares (isto é, pertencentes a dioceses) que ficaram no terreno foram obrigados a reorganizar-se, deixando alguns centros missionários para atender à Missão de Soibada, à escola e ao internato.

As actividades educativas, que de acordo com o prelado “estavam de vento em popa”, ficaram estagnadas, com o Colégio da Imaculada Conceição, administrado pelas Canossianas, a sofrer o “prejuízo maior”.

A presença dos padres e irmãos consagrados da Companhia de Jesus em Timor durou apenas 10 anos “mas o apostolado aí desenvolvido criou raízes profundas na vida das populações de Soibada, Barique, Lacluta e Viqueque”, realça D. Ximenes Belo.

“Pela acção dos Jesuítas – prossegue o bispo – os timorenses tiveram acesso ao conhecimento religioso, cultural e social” e por isso “os missionários eram estimados pelo povo em geral.”

A Companhia de Jesus regressou a Timor em 1958, quase meio século após a sua expulsão, intervindo no Seminário e Colégio de São José, em Díli, na Casa de Retiros de Dare e na capelania dos Hospitais e Prisões.

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