Quaresma: Comissão Nacional Justiça e Paz coloca no caminho da Páscoa o terrorismo, a pobreza, a privatização dos CTT e a poluição no Tejo

Organismo da Conferência Episcopal Portuguesa publicou a sua «Reflexão Quaresmal»

Lisboa, 26 fev 2018 (Ecclesia) – A Comissão Nacional Justiça e Paz afirma na reflexão quaresmal hoje divulgada que a humanidade vive “tempos difíceis”, que são “ameaças” à sobrevivência, denuncia situações de desigualdade social e indica propostas para “transcender as situações de violência e injustiça”.

No documento intitulada “Fazer Caminho: Das Pedras ao Fogo da Páscoa”, a Comissão Nacional Justiça e Paz (CNJP) “afirma, contextualiza e expande” a Mensagem do Papa para a Quaresma, redigida em torno do tema “Porque se multiplicará a iniquidade, vai resfriar o amor de muitos!”

“Impressiona a clareza do Papa em nomear as duas causas tão concretas do ‘resfriar do amor’, a nível pessoal e ‘também nas nossas comunidades’: a ganância e a recusa de Deus”, refere o documento.

A CNJP denuncia que “nem todos os portugueses têm pleno e tempestivo acesso à saúde”, apesar dos “bons resultados” do Serviço Nacional de Saúde, a “poluição criminosa” dos rios, como documentam as “imagens dramáticas” do Rio Tejo, e a “marginalização dos idosos”.

“A triste marginalização dos idosos parece não ter remédio e também o ‘esquecimento’ das populações do interior. O exemplo recente dos CTT é paradigmático porque a tomada de decisão teve como base um maior lucro e não a reorganização de  um serviço de atendimento aos cidadãos, nomeadamente os mais isolados”, sublinha a CNJP.

Este organismo da Conferência Episcopal Portuguesa lembra também “algumas iniciativas muito belas”, como a aplicação informática “SOS idosos” feita por um grupo de jovens na sua escola”.

Na reflexão quaresmal, a Comissão refere a guerra “em lume brando”, com expressão nos “conflitos locais” em curso, o os “extremismos nacionalistas renascendo na Europa” e a instalação de “novos fundamentalismos”.

“O terrorismo não tem fronteiras: experimentamos no nosso quotidiano a insegurança e o medo, a desesperança. Vivemos uma globalização económico-financeira que, em vez de nos trazer maior solidariedade, nos atrofia e abafa com tentáculos invisíveis”, acrescenta o documento.

“O ultra-liberalismo do ‘salve-se quem puder’ é no mundo uma realidade: instalou-se na educação, na saúde, na justiça, no apoio e segurança social, no trabalho e no emprego, no uso da terra”, sublinha.

A CNJP refere também o “excesso de relações online”, sobretudo nos adolescentes que “ainda não têm a mínima capacidade de autocontrole no uso das redes sociais e afins”, que pode atingir um estado de “rotura comunicacional”

A reflexão quaresmal lembra ainda, por causa dos incêndios, os “problemas mais profundos quanto à distribuição geográfica da população e à concentração das pessoas em megacidades”, onde “o crime e a violência instalam-se de par com um outro tipo de pobreza que retira qualquer dignidade ao quotidiano das pessoas e reduz tudo a uma luta pela sobrevivência”.

“Anunciam-nos que a taxa de desemprego baixou (e congratulamo-nos com isso) mas há que continuar a denunciar os salários baixos e a situação contratual precária”, lembra o documento, que se refere também ao desemprego juvenil, à corrupção no desporto e à violência doméstica.

“Constatamos finalmente a não-diminuição da violência doméstica e a incapacidade das forças de segurança, e mesmo da justiça, de atenderem a este flagelo que tem ceifado muitas vidas, nomeadamente de mulheres”, indica a CNJP, denunciando uma “nova praga”, a “violência no namoro”.

“Temos um dever para com o futuro. Que a fé no futuro nos mantenha os olhos abertos”, conclui o documento.

PR

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