Publicações: José Milhazes conta história da Ucrânia para clarificar «procura de indentidade nacional»

Jornalista lamenta que Ocidente nunca tenha tido uma «política clara em relação à Ucrânia»

 

Lisboa, 06 ago 2024 (Ecclesia) – José Milhazes, jornalista e autor do livro «A mais breve história da Ucrânia», afirmou à Agência ECCLESIA a importância de aceder a informação “clara” para que se possa formular problemas de forma compreensível.

“É cada vez mais necessário, nos dias que correm, em que as pessoas são ludibriadas com muita informação, de tendência às vezes não muito clara, até para criar alguma desagregação. Hoje, exatamente para poder separar o trigo do joio, as pessoas têm que ter acesso também a formulações de problemas tantas vezes complexos, de uma forma clara, e que elas possam compreender”, explica em entrevista ao programa ECCLESIA.

Numa autoria conjunta com Vladimir Dolin, José Milhazes sublinha a importância de se compreender o “passado de um povo” para se perceber “como é que ele age atualmente e o que é que o leva a agir de uma forma e não de outra”.

Com esta publicação, o autor português quis responder a uma “afirmação de Vladimir Putin” quando este afirma que “a Ucrânia e os ucranianos não existem”.

“Isto é claramente falso e penso que facilmente desmontamos essa ideia com que Putin quer justificar o imperialismo russo e quer justificar a sua política expansionista. Essas foram as principais razões, porque a Ucrânia é um país menos conhecido do que a Rússia e é um país que, ao contrário, por exemplo, de Portugal, que é um país com umas fronteiras antigas, com uma história também contínua, a Ucrânia era composta por pedaços que estavam divididos entre os vários impérios e isto ainda torna mais complicado a história desse país”, recorda.

José Milhazes fala numa contínua busca pela liberdade, territorialidade e identidade nacional.

Imagem: DR

“O que os ucranianos querem é que respeitem a sua identidade nacional”, sublinha.

O jornalista exemplifica com a procura de manutenção da língua ucraniana, “mesmo no período soviética, em que era vista como língua de campónios, de ignorantes”, mas os ucranianos procuravam mantê-la.

Até que, conta, “as pessoas não iam para as escolas primárias na língua autóctone porque depois não podiam ir para a universidade” ou eram obrigadas a optar por universidades russas”: “Então preferiam, porque dava direito a uma carreira maior, começar logo pelo ‘verdadeiro russo’”.

O autor lamenta que o Ocidente nunca tenha tido uma “política clara em relação à Ucrânia”.

“A Ucrânia, quando começa a ser um país independente, efetivamente, na sociedade ucraniana, há o desejo de ir aderir, não imediatamente, mas dentro de algum tempo, à União Europeia e à NATO. Só que, tanto a União Europeia como a NATO falavam, mas pouco faziam, ou nada. O que levou a Ucrânia a entrar numa série de crises políticas gravíssimas”, indica numa entrevista.

José Milhazes explica que os interesses internacionais da Rússia devem ser consideradas, “é um grande país”, mas sublinha a impossibilidade de “cortar as liberdades dos outros países”, decorrente do direito internacional e do reconhecimento dos territórios.

“A Rússia não tinha qualquer tipo de justificação para invadir o estado vizinho. Mais lhe digo, se Putin é inteligente, ele continuava a acompanhar a situação na Ucrânia sem intervir, e eu garanto-lhe que este ano, nas eleições presidenciais ucranianas que se deveriam realizar, Zelensky não seria eleito”, indica.

O jornalista afirma que “as promessas de Zelensky não estavam a ser cumpridas” mas que a emergência nacional da guerra “formou um líder”.

HM/LS

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