Portugal: Juventude Operária Católica alerta para «muitos despedimentos ilegais» e falta de segurança

«Como é possível ainda existirem empresas que não têm a consciência da proteção dos seus trabalhadores?» – Solange Pereira

Foto: Lusa

Lisboa, 01 mai 2020 (Ecclesia) – A presidente nacional da Juventude Operária Católica (JOC) denuncia a “precariedade” no trabalho, com relatos de “muitos despedimentos ilegais”, que são uma “realidade muito presente” na pandemia de Covid-19.

“Com este surto pandémico é a precariedade que está por detrás de dezenas de despedimentos, imposição de carga horária, sem respeito da entidade patronal dos horários de trabalho e dos descansos semanais, muitos contratos a termo, empresas de trabalho temporário, continuamos com os falsos recibos verdes”, afirmou Solange Pereira.

Em declarações à Agência ECCLESIA, a responsável salienta que os jovens trabalhadores “vivem e trabalham na incerteza de um vínculo precário de trabalho”.

A Juventude Operária Católica tem entre os seus membros “muitos profissionais de saúde” e a maior parte está com “uma sobrecarga horária que lhes causa desgaste imenso, tanto físico, como psicológico”, e são quem está “na linha da frente neste combate a esta pandemia”.

“muitos não têm qualquer tipo de proteção e meios para se protegerem” com o “risco constante de prejudicar e pôr em causa a sua saúde, mas também dos pacientes que tratam”, lamenta Solange Pereira.

A entrevistada alerta também para o relato de jovens que nos seus postos de trabalho normal têm de “continuar a trabalhar e não têm condições de higiene e segurança” para se protegerem e para proteger os seus colegas.

Como é que é possível ainda existirem empresas que não têm a consciência da proteção dos seus trabalhadores?”.

A presidente nacional da JOC assinala que há jovens que “não têm condições” que lhes permitam parar de trabalhar, pelo que acabam por “colocar a sua vida em risco”, dado que têm de ter “alguma fonte de rendimento para se sustentar e levar uma vida digna, por mínima que seja”.

A jovem ativista salienta que “há muitos anos” os movimentos operários “lutam a favor de condições de trabalho mais estáveis”, nos contratos de trabalho, mas também na higiene e segurança.

“Um ponto positivo é que não estamos a lutar em vão: lutamos por aquilo que o sistema económico já devia ter lutado há muitos anos e deveria ter resolvido há muito tempo”, desenvolveu.

Neste contexto, adianta que quer “acreditar” que esta pandemia não será “levada em vão” pelos trabalhadores, como pelas empresas, e o Estado português, mas se olhe para o trabalhador “com mais dignidade”.

A maioria das pessoas não olha para o trabalho com trazendo dignidade, olha como uma obrigação, um meio de sustento. Quando trabalhamos e nos sentimos dignos na nossa vida acho que faz toda a diferença e quero acreditar que esta pandemia vai servir para isto”.

Em entrevista emitida no programa Ecclesia, na rádio Antena 1, a presidente da Juventude Operária Católica em Portugal adianta que as ações do 1.º de Maio, Dia do Trabalhador, vão realizar-se este ano na rede social Facebook onde já estão a “partilhar vídeos e reflexões”, com o objetivo de “perceber se potenciar a produtividade é valorizar o jovem no trabalho e a sua dignidade”.

“Pensamos que se o jovem é mais produtivo acaba por ter mais dignidade no seu trabalho e, muitas vezes, é o contrário, por detrás do seu posto de trabalho existem muitas coisas que não são valorizadas”, concluiu Solange Pereira.

JOC surgiu na Bélgica em 1925, através do padre Joseph Cardijn, e chegou a Portugal 10 anos depois, assumido como missão “a libertação dos jovens trabalhadores”.

LS/CB/OC

 

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