José Luís Nunes Martins
Um pai olha para o seu filho recém-nascido e compreende que passou a ter alguém por quem deve morrer, se for preciso. E o mundo, nesse caso, não lhe reconhecerá grande heroísmo, apenas que dessa forma cumpriu a sua obrigação, não fazendo mais do que era esperado.
Talvez o mais estranho é que seja assim por amor. Um amor por alguém que não se escolheu. O pai escolhe amar, sem condições em relação ao que o seu filho seja ou possa fazer. Um pai ama o filho e, por isso, se necessário, dá a vida por ele. Sem heroísmo, apenas e só porque o ama.
Se amo, e se o faço com verdade, encontro aí o valor absoluto da minha existência, em qualquer momento, por pior que seja. Mas que sentido teria minha vida se não tivesse por quem morrer? Desgraçado aquele que não tem sequer por quem chorar.
Por amor sou capaz de ir resgatar quem amo do meio de uma tempestade num mar distante, entrar numa casa em chamas se for lá que ele esteja, ou até descer a um inferno qualquer para de lá o retirar e o levar às portas do céu.
O amor é maior do que esta vida. Há quem ame apenas com o coração, uma emoção enorme e uma agitação que nos parece levar ao céu, mas que, da forma estranha com que chegou, também passa e desaparece… e morre.
E há quem ame com a alma, que, por ser de substância divina, é eterna, e assim também o amor que dela emana. A morte é impotente face a qualquer amor desta natureza.
Dar a vida é muito mais do que morrer. É, sobretudo, dar-me, empregando o meu tempo, as minhas forças e os meus talentos ao serviço do bem de quem amo.