Pessoas com deficiência: Cultura de acessibilidade tem de ser «natural» nas comunidades

Comunidade Católica com Deficiência Visual promoveu uma tertúlia para assinalar o Dia Mundial do Braille 

Lisboa, 08 jan 2024 (Ecclesia) – A Comunidade Católica com Deficiência Visual promoveu, este domingo, a tertúlia “Braille, uma porta para o serviço” e defende que as comunidades católicas devem fomentar uma cultura de acessibilidade para todos de forma “natural”.

O encontro, realizado através dos meios digitais, assinalou o Dia Mundial do Braile, que se comemora no dia 4 de janeiro, e valorizou a complementaridade entre pessoas com deficiência e a comunidade para que a questão da acessibilidade “não seja um tema”.

“O objetivo é que isto, um dia, não seja um tema, mas seja algo natural, como é cada vez mais”, afirmou Marta Vitorino, que defende que “a acessibilidade advenha de uma complementaridade e de uma boa comunicação entre todos”.

Voluntária na Jornada Mundial da Juventude que decorreu em Lisboa, a jovem de 26 anos afirma as pessoas com deficiência podem não fazer nada sozinhos, mas também não podem “depender dos outros”, apontando para uma “interação” na comunidade.

Nós, pessoas com deficiência, temos de ter sempre a capacidade de explicar e estar dispostos a explicar as coisas, nem que seja 30 mil vezes, porque as pessoas simplesmente não percebem, e a comunidade tem de estar predisposta a ouvir”.

Marta Vitorino afirma que, com a complementaridade, “tudo corre bem”, defendendo que as pessoas com deficiência devem ter a iniciativa e mostrar que desejam participar.

“Foi a ouvirmo-nos uns aos outros que já avançamos o que avançamos e é assim que vamos continuar a avançar”, aponta, considerando que a comunicação e a complementaridade entre pessoas com deficiente e a comunidade permite continuar um caminho que “terá sempre de continuar a ser trilhado”

António Jacinto, cego desde criança, afirma que não se imagina sem o Braille, porque lhe permitiu o acesso “à educação, à cultura, à informação” e ao exercício da profissão de professor, da qual já se aposentou.

“O Braile é a minha vida”, afirma, recordando os tempo de escola, a participação no coro na Paróquia de Santa Iria da Azóia, as sessões de catequese que dinamizou a transcrição para Braille dos subsídios para a catequese e a liturgia.

O Braile é a porta que me dá a oportunidade para entrar para os espaços mais maravilhosos da vida, que é a felicidade e o prazer de estar vivo e agradecer a Deus esta bênção”.

António Jacinto defende e apela à participação cada vez mais ativa das pessoas com deficiência, sinal para a comunidade de que a “limitação que a pessoa tem está a ser ultrapassada”.

Ana Sofia Teixeira, que faz parte do coro da Paróquia de São Pedro da Cova, onde reside, e integra o Serviço Pastoral a Pessoas com Deficiência da Diocese do Porto, usa sobretudo as novas tecnologias para comunicar, admitindo que o Braille ajudaria a uma maior participação na comunidade.

“Se soubesse ler Braille, garantidamente que a minha participação a um nível religioso seria ainda mais ativa”, afirma, apontado com exemplo a possibilidade de ser leitora na paróquia.

Com uma deficiência visual congénita, Ana Sofia Teixeira sublinha que a acessibilidade não se relaciona apenas com a escrita e lembra que muitas vezes são necessárias ajudas para chegar aos locais de culto.

Para o coordenador Comunidade Católica com Deficiência Visual, que promoveu este encontro, o Braille é “o primeiro passo de um tema” que é muito caro ao grupo, a acessibilidade.

“Precisamos de ajuda e de nos ajudarmos a nós mesmos nestas questões da acessibilidade”, afirma José Maria Marrecas Ferreira, lembrando que “a acessibilidade é tudo” porque dela depende a possibilidade de cada cego ou deficiente visual crente encontrar “Jesus na sua vida íntima e comunitária”.

D. José Traquina, bispo responsável Conferência Episcopal Portuguesa pelo setor da Pastoral a Pessoas com Deficiência, afirmou que é necessário cultivar o “valor de cada pessoa” na sociedade e defendeu que a Igreja Católica deve ter portas abertas para todos “não por favor, mas por amor”.

A Comunidade Católica com Deficiência Visual com criada em Portugal em 2021.

PR

 

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