Pastoral da Saúde: Acompanhar espiritualmente é tarefa «sagrada» e uma «arte sem tempo»

Cláudia Antunes, atual coordenadora de identidade e pastoral da saúde das Irmãs Hospitaleiras do Sagrado Coração de Jesus, mudou a sua vida aos 40 anos quando deixou o trabalho na Banca, estudou Ciências Religiosas e foi, durante seis anos, assistente espiritual

Foto Agência ECCLESIA/MC

Lisboa, 26 jun 2024 (Ecclesia) – Cláudia Antunes, coordenadora da Pastoral da Saúde nas Irmãs Hospitaleiras do Sagrado Coração de Jesus, foi assistente espiritual e considera que esta função desafia a linguagem com que se comunica o amor a alguém em situação de fragilidade.

“Há buscas diversas: uma procura, um anseio que eu não posso fechar na minha linguagem, na minha forma de ser e de estar; (tenho antes de perguntar) Como é que agiria Jesus se estivesse aqui, hoje, com esta pessoa que tem este seu caminho de busca?”, questiona em conversa com a Agência ECCLESIA.

Ser assistente espiritual, sublinha, “é uma arte”, uma missão “sagrada” que não pode ser realizada “por um tarefeiro”, porque exige “tempo”.

“O assistente espiritual é este veículo por onde passa o amor de Deus Pai por cada homem e por todos os homens. É uma afirmação que as pessoas muitas vezes não reconhecem, portanto é levar-lhes essa certeza da forma mais simples e despojada, ouvi-las ou estar em silêncio”, assinala.

Durante seis anos como assistente espiritual na clínica Psiquiátrica de São José, em Telheiras, com pacientes em área de saúde mental, Cláudia Antunes dá conta de padrões na vida das pessoas que revelam falta de tranquilidade: “Necessidade de perdão que as pessoas vão sentindo, de se perdoar a si próprias, aos outros”.

“Isto é um desafio que se coloca nos dias de hoje para um assistente espiritual, mesmo em termos de linguagem, de forma de estar: Como é que eu me abro e estou centrada noutra pessoa, que é uma pessoa, para além das suas crenças. Na pastoral da saúde das Irmãs Hospitaleiras lançámos um documento, que questiona a forma como acolhemos as pessoas assistidas – com os seus caminhos de busca espiritual; Como é que realizamos a abertura a cada uma dessas pessoas que nos chega, porque não se trata de realizar uma pastoral para pessoas católicas, ou que se dizem católicas, mas como é que nós chegamos a cada um dos que nos chega”, indica.

Cláudia Antunes está há dois anos como coordenadora de identidade e pastoral da saúde das Irmãs Hospitaleiras do Sagrado Coração de Jesus, depois de seis anos como assistente espiritual, e este caminho correspondeu a uma grande mudança na sua vida, uma vez que se formou em matemática aplicada e trabalhou na banca, quer em gestão de clientes como em marketing.

Reconhecendo uma necessidade de racionalidade e lógica na sua organização mental, Cláudia Antunes reconhece que numa altura de estabilidade profissional questões sobre o “sentido da vida” falaram mais alto e uma “sede de Deus” manifestou-se, tendo procurado junto do estudo de Ciências Religiosas “colocar palavras, abrir espaço para perguntas e encontrar respostas” para si e para a fé.

Cláudia Antunes recorda o seu crescimento na fé num contexto familiar onde o pai “católico não praticante” era um suporte para a frequência da catequese e nas atividades paroquiais desenvolvidas na comunidade em Sacavém, na periferia de Lisboa, mas, na adolescência, deu-se um afastamento da Igreja, a partir da separação dos seus pais e de questionamentos na sua vida que a levaram a sentir-se “pouco acolhida”.

O regresso aconteceu com a decisão de participar na Jornada Mundial da Juventude, em paris, no ano de 1997, com a preparação feita na paróquia de São João da Talha, na altura com o padre Ildo Fortes na comunidade, hoje bispo de Mindelo, em Cabo Verde.

“Ali encontrei grandes amigos, amigos atuais, e a JMJ Paris abriu um enorme caminho de regresso”, recorda.

Cláudia Antunes assume a atual importância que a Comunidade Mambré desempenha na sua vida, através do “carisma trinitário” e da tarefa de “formar homens e mulheres que Deus sonhou na Igreja e na sociedade”.

“É uma comunidade onde eu me vejo a formar, quer a nível humano, quer a nível espiritual, espiritual, quer a nível teológico. E depois há uma unificação pessoal que procura, com a comunidade Mambré, repercussões a nível profissional e que molda o ser em sociedade”, explica.

Com funções de coordenação de identidade e pastoral da saúde das Irmãs Hospitaleiras do Sagrado Coração de Jesus, Cláudia Antunes trabalha “em estreita ligação com a irmã do Governo”, para identificar “caminhos de formação, uniformizar processos, profissionalizar a intervenção pastoral nos centros junto das nossas pessoas assistidas”.

A conversa com Cláudia Antunes pode ser acompanhada esta noite no programa ECCLESIA, emitido na Antena 1, pouco depois da meia-noite, ficando disponível posteriormente no portal de informação e no podcast «Alarga a tua tenda».

LS

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