Mulher: Vítimas de violência doméstica chegam às instituições «com medos, vergonha e culpa»

Diretora técnica do Centro Social e Paroquial de São Bento, na diocese do Funchal, fala de realidade que precisa de “acompanhamento”

Funchal, 07 mar 2022 (Ecclesia) – Magna Rodrigues, diretora técnica do Centro Social e Paroquial de São Bento, na diocese do Funchal, disse à Agência ECCLESIA que, em tempo de pandemia, o número de acolhimentos de vítimas de violência doméstica diminuiu, porque era “difícil recorrer aos serviços”, mas “há grande necessidade de acompanhamento” destes casos.

“Na pandemia houve uma redução nos acolhimentos por causa do confinamento e era difícil recorrer aos serviços e atendimento para pedir ajuda, atualmente em casa de abrigo temos seis mulheres e nove crianças e jovens”, explica a responsável à Agência ECCLESIA.

A casa abrigo é uma valência do Centro Social e Paroquial de São Bento, na diocese do Funchal, e a diretora, Magna Rodrigues explica que “depois das situações serem avaliadas por outras estruturas e perceberem o risco”, chegam ali mulheres com “muitos medos, baixa auto estima, ansiedade, vergonha e culpas”.

“Muitas vezes vêm com medos, com baixa auto estima, sentimentos de incapacidade, depressão, ansiedade, dificuldade de tomar decisões, vergonha, culpa e ausência de rede social de apoio, algumas também fragilizadas para assumir o papel de mãe”, refere.

Desde o primeiro dia que uma mulher entra na instituição, a equipa técnica procura delinear “um projeto de vida, para cada uma e para os seus filhos, identificando potencialidades e vulnerabilidades” mas é necessário sempre “um acompanhamento”.

“Temos de as preparar, seja pela procura ativa de emprego ou encaminhar para formação, e aqui, no dia a dia, desenvolvemos ateliers de aprendizagem que se tornam uma importante ferramenta de desenvolvimento, para resgatar a auto estima e restabelecer o interesse pela vida, o interesse em si e nos outros”.

Magna Rodrigues destaca que “o empoderamento das mulheres” e o entendimento das “várias formas de lidar com esta vitimização” podem ser momentos importantes da vida de cada uma das mulheres.

A instituição organiza ainda “ateliers de beleza,  estética, cozinha, costura, organização e comemoração de aniversário, organização e tratamento de vestuário, gestão económica e familiar”.

Apesar de muitos casos de sucesso, “que às vezes visitam a casa”, a diretora técnica admite que há outros casos em que as mulheres voltam para a relação violenta e, nesse caso, resta “respeitar a decisão da vítima e informar que as portas estão sempre abertas”.

“É um pouco frustrante quando isto acontece, seja por razões de dependência financeira ou emocional, mas temos de respeitar e entregamos um plano de segurança com vários cuidados que a mulher deve ter e contactos que pode recorrer perante uma situação violenta”, informa.

Magna Rodrigues terminou dizendo que “o ideal é que não existisse a violência doméstica” mas salienta que, perante esta realidade, “há que valorizar o papel e o apoio que as casas de abrigo dão às vítimas” para que encontrem as melhores soluções.

A entrevista integrou o programa ECCLESIA deste sábado, na Antena 1 da rádio pública, pelas 06h00, já disponível online.

Esta segunda-feira, 7 de março, assinala-se o Dia de Luto Nacional pelas Vítimas de Violência doméstica.

SN

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