«Memórias que contam»: A Irmã Maria João da Casa de Betânia ensinou a «pensar grande» no meio dos «pequenos» (c/vídeo)

Carlos Liz afirma que personalidades como estas só «desaparecem à vista», mas continuam a fazer «sentir a pressão» pelas causas que defenderam

Lisboa, 19 fev 2021 (Ecclesia) – Carlos Liz conheceu a irmã Maria João, fundadora da Casa de Betânia, no decorrer de um estudo de fazia sobre as congregações religiosas em Portugal e descobriu na religiosa doroteia a capacidade de “pensar grande” no meio dos frágeis.

“Temos de aprender a pensar grande, a ter a capacidade de viver no meio de tensões, sem fugir das tensões, sem se retirar para pensar o grande quando se está no meio do pequeno”, disse o especialista em estudos de mercado e de opinião.

A Irmã Maria João  Neves, que fundou a Casa de Betânia em 1992 para cuidar pessoas com deficiência num “espírito familiar”, faleceu no dia 9 de fevereiro com Covid-19, aos 78 anos, e o seu percurso de vida é evocado nas conversas online da Agência ECCLESIA de hoje  por Carlos Liz.

Carlos Liz recorda que desde a primeira vez que contactou com a fundadora da Casa de Betânia percebeu que estava perante uma “personalidade marcante”, alguém “que tinha muita força interior e exterior, que implica as pessoas à volta, e tinha horizontes largos e era capaz de viver nomeio de tensões múltiplas”.

Certo de que as questões legadas ao mundo da deficiência são “objetivamente duras”, o investigador em estudos de mercado sublinha que a irmã Maria João cuidava de cada residente “a partir de um profundo respeito”, que “tem de estar sempre a ser ativado”.

Carlos Liz considera que a irmã Maria João é “estruturalmente inquieta”, andou à procura do que correspondesse à sua “sede de Deus” e inspirou-se no projeto L’Arche’ que olhava para a deficiência não numa lógica “institucionalizante”.

A Casa de Betânia, fundada há quase 30 anos, carateriza-se por estar inserida no meio de uma “urbanização normal”, envolve os residentes nas tarefas quotidianas e define-se por “fazer coisas especiais dentro da cidade de todos”.

A irmã Maria João tinha um irmão com uma deficiência, o Manel que “era um pintor à séria” e chegou a ver os seus trabalhos expostos, e que não é, para Carlos Liz, a razão de ser  única da abertura da Casa de Betânia numa lógica “assistencialista” ou “familiarista”.

O especialista em estudos de mercado afirma que a irmã Maria João viu no seu irmão “uma personalidade com múltiplas coisas para contar e para dizer e havia de criar condições para isso”, encontrando formas de cada um dos residentes, atualmente 22, encontrar metodologias e linguagens para mostrar “as suas competências”.

“Vejo a casa de Betânia não como uma IPSS assistencial competente, que obviamente é, mas muito mais ampla, que precisava de outras linguagens”, afirmou

Um dos últimos projetos da irmã Maria João, que Carlos Liz tem em sua posse são a razão para “sentir a pressão” das causas de personalidades como a da fundadora da Casa de Betânia que só “desaparecem à vista”, consiste na elaboração do perfil de cada residente a partir de comparações com elementos da natureza.

Através de textos e imagens, a irmã Maria João descobria a personalidade dos residentes através de qualificativos que correspondem a elementos da natureza, para “expandir a personalidade da pessoa”, que não se fixa nas suas limitações, mas se associa à “beleza” da casa comum

“Estes traços não são miminhos, são correspondências pensadas”, sustenta Carlos Liz.

O especialista em estudos de mercado considera que a irmã Maria João “foi sempre capaz de pensar pela cabeça dela e pelo coração e ao mesmo tempo ser muito leal e ter uma profunda gratidão pela Igreja”

Carlos Liz lembra o respeito da fundadora da Casa de Betânia pela congregação a que pertencia e pela paróquia onde estava inserida, mostrando-se muito capaz de “tratar com muita atenção das coisas dos homens e perceber que isso está ligado com as coisas de Deus.

“Fazer esta ligação harmoniosa é tudo menos fácil. Ela nunca desligava as questões. Conseguiu harmoniosamente e com energia juntar coisas que normalmente estão dispersas, afastadas umas das outras. E é isso que eu admiro nela”, afirmou Carlos Liz.

As ‘Memórias que Contam’ são a proposta das conversas online que a Agência ECCLESIA tem vindo a promover, desde o primeiro confinamento, e vão estender-se ao longo da Quaresma, para evocar pessoas ligadas à Igreja Católica que faleceram por causa da Covid-19.

PR

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