Lisboa: Cardeal-patriarca evoca perseguições aos cristãos de hoje, na celebração do mártir São Vicente

Padroeiro principal do Patriarcado foi morto no século IV, por causa da sua fé

Lisboa, 23 jan 2020 (Ecclesia) – O cardeal-patriarca de Lisboa presidiu esta quarta-feira à solenidade do padroeiro principal do patriarcado, o diácono e mártir São Vicente, recordando os cristãos que hoje são vítimas de perseguição, “em mais do que um país e continente”.

“A fé cristã resiste a qualquer apropriação totalitária e por isso mesmo aparece como obstáculo a todo o poder sem freio. É muito elucidativo verificar – a propósito e sem anacronismo – que, quando algum poder se quis único e total no passado, mesmo dizendo-se cristão e para defesa dum pretenso cristianismo, encontrou sempre cristãos autênticos e críticos convictos entre aqueles que perseguiu”, declarou D. Manuel Clemente, na homilia da celebração.

O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa defendeu a necessidade de respeitar a consciência individual, aludindo à “objeção de consciência face a práticas legalmente permitidas”, mas “questionáveis, em especial no que concerne ao direito à vida, da conceção à morte natural”.

A intervenção realçou também o “direito dos pais à educação dos filhos, dentro do quadro dos valores essenciais” que constituem a sociedade.

O cardeal-patriarca lamentou que persistam ideologias que procuram limitar “horizonte à dimensão temporal”, com “prepotência”.

“No passado e ainda no presente, pôde e pode ser assim no campo imediatamente político, quando não se respeitam as declarações universais de direitos, a liberdade religiosa e a indispensável distinção de poderes, entre quem legisla, quem governa e quem julga”, advertiu.

As relíquias de São Vicente que morreu no século IV, durante as perseguições do imperador Diocleciano, chegaram a Portugal no século VIII.

D. Manuel Clemente referiu que o padroeiro do Patriarcado de Lisboa foi torturado e martirizado num tempo em que o cristão “arriscava a morte”, apenas por professar a sua própria fé.

“Aconteceu com Vicente, com particular ferocidade, pois quiseram fazer dele um caso notório, que atemorizasse os outros. Conseguiram, bem pelo contrário, que fosse ainda mais conhecido o seu exemplo, numa e outra margem do Mediterrâneo, pouco depois e para sempre”, assinalou.

A homilia desafiou os católicos a imitar o exemplo do jovem diácono, respondendo a situações de “solidão” e a uma situação de “vazio e lacuna sociocultural e mediática”.

OC

Vicente, um jovem diácono da Igreja de Saragoça, morreu mártir em Valência, Espanha, no ano de 304, durante a perseguição  aos cristãos, depois de sofrer torturas.

 Segundo Prudêncio, um poeta cristão da Antiguidade, os restos mortais de Vicente foram mandados lançar aos pântanos, fora dos muros da cidade, para que fossem devorados por animais mas, os seus restos foram protegidos por corvos, que impediram a profanação do corpo.

 A tentativa de recuperação do corpo foi ordenada por D. Afonso Henriques, que mandou construir o Mosteiro de São Vicente de Fora em 1147, no cumprimento de um voto dirigido a São Vicente pelo sucesso da conquista de Lisboa aos mouros.

 O corpo do mártir chega a Lisboa no dia 15 de Setembro de 1173 e é depositado em Santa Justa. No dia seguinte é trasladado para o altar-mor da Sé e do Algarve chega tudo o que pertencia ao mártir.

 Parte das relíquias de São Vicente ainda existem hoje na Sé de Lisboa. A sua festa é assinalada a 22 de janeiro.

São Vicente é iconograficamente representado com a barca que o transportou e os corvos, ambos emblema da cidade de Lisboa.

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