JMJ Lisboa 2023: D. José Tolentino Mendonça aponta a «encontro histórico»

Cardeal português esteve em debate com José Mourinho, marcado por elogios ao pontificado de Francisco

Roma, 31 mar 2023 (Ecclesia) – O cardeal José Tolentino Mendonça disse hoje em Roma que a JMJ Lisboa 2023, marcada para agosto, vai representar um “encontro histórico”, num momento de dificuldade para as novas gerações.

“Depois da pandemia, de tudo o que vivemos, o encontro de Lisboa será um encontro histórico”, disse o prefeito do Dicastério para a Cultura e a Educação (Santa Sé), num debate com o treinador português José Mourinho, atualmente ao serviço da AS Roma.

A iniciativa foi organizada pelo Centro Fé e Cultura ‘Alberto Hurtado’, da Universidade Pontifícia Gregoriana, em colaboração com a Embaixada de Portugal junto da Santa Sé.

O debate abordou o décimo aniversário da eleição do Papa Francisco e a preparação para a JMJ Lisboa 2023.

D. José Tolentino Mendonça apresentou a Jornada Mundial da Juventude como uma “caravana gigantesca” de centenas de milhares de jovens que vão celebrar “a sua busca de sentido, a sua fé, mas também a sua humanidade, a beleza de estar juntos”.

O encontro mundial iniciado há quase 40 anos, acrescentou, tem servido para “construir novas formas de cidadania, de proximidade”

“É muito belo que este desejo da candidatura de Portugal como país organizador tenha nascido quando D. Manuel Clemente, patriarca de Lisboa, percebeu que a juventude, neste momento, tem uma força, um dinamismo, uma vitalidade que chama a Igreja a dar passos novos”, observou o colaborador do Papa.

O cardeal português alertou para a urgência de discutir “o que é ser jovem, hoje, quais são os grandes desafios que os jovens enfrentam”, falando em “vidas precárias”.

“Hoje, os jovens são obrigados a ser jovens até uma idade tardia”, lamentou, por falta de estabilidade laboral, de habitação, de “segurança mínima” para construir um futuro, uma família.

José Mourinho, por sua vez, falou de um mundo “mais difícil” para os jovens, que se confrontam com “coisas irreais que entram todos os dias nas suas casas, nos seus telemóveis”.

“É um mundo ‘fake’ que cria expectativas” e leva a um sentimento de “falhanço”, precisou.

O treinador português destacou a importância do diálogo entre gerações, dando como exemplo o seu trabalho, como líder de “25, 30 jovens”.

“Se não tens capacidade de aprender com eles, de te confrontares com eles, estás em grande dificuldade”, sustentou.

Na conversa, em italiano, o cardeal Tolentino Mendonça apresentou a questão da “fragilidade” e de “vulnerabilidade”, na vida.

“Temos necessidade de uma sabedoria, de uma gramática do humano que não exclua a fragilidade”, apelou.

O encontro abordou os dez anos do pontificado de Francisco, visto como alguém capaz de falar e de “tocar com a sua humanidade o coração de todos”.

“Hoje, ninguém é indiferente a esta personalidade”, apontou o prefeito do Dicastério para a Cultura e a Educação, elogiando a “beleza da autenticidade” do atual Papa.

O cardeal madeirense elogiou a “frescura profética extraordinária” do pontificado, assumindo-se “comovido” pelo modo “diferente” de pensar de Francisco, um Papa “próximo”, que repete continuamente o apelo para “seguir em frente”.

“Ele sabe que o seu papel é o de inspirar”, precisou.

Mourinho referiu-se a Francisco como “um dos nossos”, recorrendo à linguagem do balneário.

“Nunca o conheci pessoalmente, mas quando penso nesse encontro, julgo que a minha reação será pedir um abraço”, confessou.

O Papa foi definido com “um avô, um avô fantástico”.

No início da conversa, o cardeal Tolentino Mendonça falou do desporto como “uma grande escola de vida”, na qual se vive a “alegria” que vem de um movimento feito em conjunto.

O colaborador do Papa destacou a necessidade de associar o desporto à “formação dos jovens”, como aconteceu no percurso de José Mourinho, questionando-o sobre esta experiência, no contexto escolar.

O treinador recordou, na sua resposta, que, após a Universidade, deu aulas a um grupo de alunos com Síndrome de Down.

“Não estava preparado”, admitiu.

Dois anos depois, Mourinho sentiu as pessoas “verdadeiramente tristes” por verem partir um “professor excecional”, explicando que o segredo esteve no “amor”.

“A única coisa que tinha para dar era amor. Mais nada. Criei uma relação com as crianças”, justificou.

O treinador português evocou a sua relação particular com o professor Manuel Sérgio, com quem aprendeu que não se treinam “futebolistas”, mas “jovens que jogam futebol”.

“A afetividade, a relação, o amor, a empatia são a base de tudo”, insitiu.

D. José Tolentino Mendonça reforçou a ideia, evocando o lugar da “afetividade”, no ensinamento de Manuel Sérgio, que ajuda um atleta, por exemplo, a “encontrar sentido no ato de correr”.

José Mourinho admitiu, no entanto, que “não há espaço para os mais fracos” no futebol profissional, onde o objetivo é “ganhar”.

“Infelizmente, o meu desporto é um mundo diferente do desporto que queremos para os nossos filhos. O desporto de alta competição é cruel”, afirmou.

O treinado pediu que os pais não coloquem “ambições e frustrações” sobre os próprios filhos, lamentando que muitas vezes sejam aqueles a colocar os mais novos no caminho dessa “crueldade” da alta competição.

Quanto aos valores que a formação futebolística pode passar, elencou a “empatia, solidariedade, controlo emocional, a busca da alegria de vencer”, bem como a capacidade de perceber que “a derrota é o final de um momento difícil” e não o seu início.

O encontro contou com a presença do presidente da Fundação JMJ Lisboa 2023, D. Américo Aguiar, e inaugurou o ciclo intitulado ‘A caminho de Lisboa’, na Aula Magna da Gregoriana; os outros encontros vão decorrer a 18 de abril e 9 de maio.

OC

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