II Concílio do Vaticano: A oposição dos católicos portugueses aos totalitarismos

A dinâmica do II Concílio do Vaticano (1962-1965) entrou no ritmo vivencial dos católicos portugueses. Os protestos e exposições contra a política do governo português daquela década e das anteriores são abundantes e apoiam-se nos documentos promulgados pela assembleia magna e transmitidos pela encíclica «Pacem in Terris».

A dinâmica do II Concílio do Vaticano (1962-1965) entrou no ritmo vivencial dos católicos portugueses. Os protestos e exposições contra a política do governo português daquela década e das anteriores são abundantes e apoiam-se nos documentos promulgados pela assembleia magna e transmitidos pela encíclica «Pacem in Terris».

Na obra «Católicos e Política. De Humberto Delgado a Marcelo Caetano» da autoria do padre José Felicidade Alves (Diocese de Lisboa) encontramos várias críticas à atuação do governo e ao silenciamento de “algumas figuras eclesiásticas”.

Em Maio de 1965, o Movimento Cristão de Acção Democrática (sem indicação de quaisquer nomes) publica um manifesto (com cinco pontos) onde começa por dizer que a Igreja em Portugal “não soube acompanhar”, nem na época liberal nem no período republicano, os ideais da revolução (In: Resistência Católica ao Salazarismo-Marcelismo; José Geraldes Freire; Edições Telos).

Neste mesmo documento, os signatários apreciam a “obra civilizadora da Igreja” ao longo dos séculos e detém-se na “oposição cristã a todas as formas de totalitarismo”; desce em seguida a pontos mais concretos dos direitos fundamentais, citando a encíclica «Pacem in Terris» (11 de Abril de 1963 do Papa João XXIII) e “denuncia com veemência a censura prévia e o abuso da força, bem como o perigo que resulta duma aliança entre o poder e uma «hierarquia adormecida ou historicamente adormecida»”, lê-se no manifesto.

O movimento signatário invoca energicamente “a sua qualidade de cristão” para se opor a que “o Estado finja que adota na sua conduta os princípios cristãos, quando ele está baseado na força e na ditadura e defende os «privilégios de classe e oligarquias de interesses»”, escreveram os signatários no manifesto de maio de 1965.

Quase a terminar, o manifesto lamenta: “Cristo jamais poderá estar do lado da polícia de assalto, da sufocação do pensamento, da violação do direito. Cristo está, como sempre do lado dos que sofrem, dos que padecem, dos que se revoltam porque têm fome e sede de justiça”.

Dois meses antes, um grupo de 54 estudantes universitários do Porto invocam também a sua qualidade de católicos, para se pronunciarem sobre a necessidade de investigar a verdade do que se passa acerca de estudantes presos. As versões dadas pelo Governo e pelas Associações Académicas são contraditórias. No meio desta perplexa situação, os estudantes do Porto apresentam documentos do Papa para que a verdade seja apresentada.

LFS

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