Igreja/Portugal: Presidente da Cáritas defende respostas de proximidade, assumindo aumento do número de pessoas «em situação de fragilidade»

«A pobreza não é igual em todos os territórios» – Rita Valadas

Foto: Agência ECCLESIA/MC

Lisboa, 17 nov 2024 (Ecclesia) – A presidente da Cáritas Portuguesa afirmou que a resposta à pobreza e ao aumento de pessoas em “situação de fragilidade” passa pela proximidade e pela centralidade do ser humano, em vez dos números.

“Acredito na proximidade, é por isso que acredito na ação da Cáritas, portanto, acredito que os municípios também poderão e terão obrigações de fazer mais próximo, de uma maneira diferente, porque a pobreza não é igual em todos os territórios, não me canso de dizer isto”, refere a convidada entrevista conjunta Ecclesia/Renascença, no VIII Dia Mundial dos Pobres, que a Igreja Católica celebra hoje por iniciativa do Papa.

Para esta responsável, a proximidade ajuda a “convocar e exigir as medidas” para responder à pobreza e exclusão social.

“O Estado não conhece a pobreza em Portugal. Quem conhece a pobreza em Portugal é quem está próximo”, sustenta, questionando “uma leitura de números e não de pessoas”.

Num olhar sobre as últimas décadas, Rita Valadas afirma que o país “não tem conseguido resolver o problema da pobreza” e se têm somado “novos pobres, novas situações”.

“A resiliência da pobreza é um forte obstáculo à resolução dos seus problemas”, alerta.

Temos mais estrangeiros, temos pessoas que não conseguem sair da pobreza e vamos tentando resolver essas situações, aquelas que acompanhamos mais diretamente, a partir do diagnóstico social que é feito, mas há muita gente que não conhecemos”.

A entrevistada elogia a “cultura da Cáritas”, que procura ir ao encontro dos “problemas” concretos das pessoas.

“Nós queremos mesmo é conhecer para cuidar, não é conhecer para agredir”, assume.

Rita Valadas assume preocupação com os problemas da habitação e, em particular, das crianças.

“Se já é difícil pensar que existem 10 pessoas a viver num quarto, como é que conseguimos pensar em duas famílias viver no mesmo quarto? Por isso digo que não é só um número, é a tipologia que se junta a este número”, precisa.

A responsável assinala que, ao problema da habitação, se junta “um conjunto de medos”, sobretudo por parte da população mais excluída, que vive “em situação de sobreocupação, escondida”.

Questionada sobre os recentes episódios de violência nas periferias de Lisboa, Rita Valadas assumiu a sua preocupação com as consequências desta situação na assistência à população.

“Se começa a haver situações de violência, deixa de ser possível até cuidar com segurança”, adverte.

A responsável indica que o país vive com “grandes problemas sociais” e que as pessoas “começam a ficar exaustas”.

“Não há discussão em relação à situação dos pobres. Não é discutível, é evidente: nós sabemos onde estão, quem são”, acrescenta.

Neste Dia Mundial dos Pobres, a Rede Nacional da Cáritas lança a sua campanha de Natal ‘10 milhões de estrelas – um gesto pela paz’, que a presidente da organização apresenta como uma “chamada de atenção”.

“Cada um de nós pode ser uma estrela na vida de alguém”, indica.

A Cáritas convida os portugueses a participar nesta iniciativa, através da compra de uma “vela estrela” de cor branca ou vermelha, disponível pelo custo 2 euros.

Dos valores arrecadados, 65% destinam-se a financiar “ações de impacto social” em Portugal, enquanto os restantes 35% suportam o Fundo Lusófono ‘Laudato Si’, que financia projetos de ecologia integral nos países de língua oficial portuguesa.

Rita Valadas sublinha a importância desta campanha para o financiamento da Cáritas, permitindo “condições para chegar o mais perto possível das pessoas que precisam”.

Henrique Cunha (Renascença) e Octávio Carmo (Ecclesia)

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