Igreja/Abusos: Presidente da CEP fala em momento «doloroso», apontando a «decisões e ações concretas» (c/vídeo)

Bispos vão designar um Grupo de Acompanhamento, com autonomia para «acolher e acompanhar» as vítimas

Fátima, 17 abr 2023 (Ecclesia) – O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) disse hoje em Fátima que a crise de abusos sexuais na Igreja exige “decisões e ações concretas” para transformar esta realidade, repetindo o seu pedido de perdão às vítimas.

“No momento doloroso, mas também de purificação e conversão em que agora nos encontramos, continuamos apostados no caminho que a Igreja tem vindo a percorrer para que os ambientes eclesiais sejam cada vez mais seguros para as crianças, jovens e adultos vulneráveis,”, referiu D. José Ornelas, na abertura da 206.ª Assembleia Plenária da CEP, que decorre até quinta-feira, jornada nacional de oração pelas vítimas de abusos sexuais, de poder e de consciência na Igreja.

Foto: Agência ECCLESIA

O bispo de Leiria-Fátima sublinhou o compromisso dos bispos portugueses para que os crimes cometidos no passado “possam ser reparados, na medida do possível, e não voltem a acontecer”.

“Foi em atenção às vítimas, antes de mais, que não nos resignamos a procedimentos do passado, nem a atitudes de conivência e silenciamento, procurando encarar estes dramas, com realismo e esperança”, apontou o responsável.

Uma Comissão Independente (CI) para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica em Portugal, designada pela CEP, apresentou a 13 de fevereiro um relatório, no qual validou 512 testemunhos, apontando a um número de 4815 vítimas, entre 1950 e 2022, e entregou aos responsáveis católicos de Portugal uma lista com nomes de alegados abusadores, no dia 3 de março.

D. José Ornelas assumiu que esta realidade “marcou os últimos meses” e tem “vindo a despertar, com crescente intensidade, uma renovada consciência pública sobre a gravidade deste crime, em Portugal e no mundo, na Igreja e na sociedade, em geral”.

O Relatório Final da CI, apresentado no passado mês de fevereiro, permitiu aprofundar o conhecimento dramático desta realidade e as consequências devastadoras que tais crimes tiveram na vida de tantas crianças”.

O presidente da CEP agradeceu o “contributo decisivo” que os membros da CI deram para “o conhecimento e denúncia destas situações”.

“Nunca é demais renovar o pedido de perdão e o sentimento de profunda gratidão para com todos os que deram ‘voz ao silêncio’ e tiveram a coragem de denunciar aquilo que nunca lhes deveria ter acontecido”, apontou.

D. José Ornelas explicou que os bispos têm estado a “analisar e a integrar as recomendações” resultantes do estudo da CI, em articulação com a Equipa de Coordenação Nacional das Comissões Diocesanas, tendo sido tomadas “medidas cautelares provisórias de afastamento de funções de pessoas mencionadas no estudo realizado”, por parte de várias dioceses.

“Tais medidas não significam qualquer atribuição de culpa e têm de ser seguidas de ulterior processo de investigação a fim de apurar a realidade e eventual responsabilidade dos factos concretos. Até lá, ninguém pode ser considerado culpado”, acrescentou.

Na lista de 98 nomes anunciados pelas dioceses portuguesas, em comunicado ou através de declarações dos seus bispos, há um total de 36 pessoas já falecidas (35 padres e um leigo).

No total, há 15 padres (13 no seguimento da análise da lista da CI, dois com medidas cautelares implementadas anteriormente) e um leigo afastados preventivamente de funções.

O elenco inclui oito nomes que as dioceses não conseguiram identificar e dois remetidos para outra diocese, além de 12 sacerdotes sem cargos atribuídos.

Há ainda nove sacerdotes no ativo, sobre os quais se aguarda nova informação para decidir eventuais medidas a aplicar; quatro outros casos dizem respeito a padres ilibados, após processos canónicos e/ou civis.

As várias dioceses informaram que nove das situações identificadas foram alvo de tratamento civil e canónico, com vários resultados: arquivamento, aplicação de medidas disciplinares, pena de suspensão ou dispensa do ministério sacerdotal.

Os últimos dois nomes dizem respeito a leigos.

O presidente da CEP adiantou que os bispos vão criar um Grupo de Acompanhamento, com “a autonomia necessária para acolher e acompanhar as vítimas e para assegurar o necessário apoio e a possível recuperação dos danos por estas sofridos, dispondo de uma linha de atendimento e de condições para o contato e acompanhamento pessoal”.

O novo grupo, que se encontra em fase de organização, vai estar articulado com a Equipa de Coordenação Nacional e as Comissões Diocesanas.

Nesta Assembleia, será analisada e votada a constituição e o projeto deste grupo, que deverá estar a funcionar nas próximas semanas, informou D. José Ornelas.

Para o bispo de Leiria-Fátima, “o caminho para a implementação de uma verdadeira cultura de proteção e cuidado dos mais frágeis, na Igreja e na sociedade, exige medidas concretas de proteção e formação”.

“É igualmente importante a colaboração da Igreja com as instituições civis, nomeadamente as que desenvolvem a sua ação na proteção dos menores. Comprometidos que estamos em erradicar os abusos sexuais no seio da Igreja, queremos ser igualmente parte ativa na resolução deste drama, que se encontra transversalmente presente nos diversos quadrantes da sociedade”, acrescentou.

A intervenção falou num “percurso doloroso”, particularmente para os membros do clero, pedindo que todas as comunidades católicas de Portugal que se unam à Eucaristia que os bispos vão celebrar, na jornada de quinta-feira, na Basílica da Santíssima Trindade às 11h00.

A agenda da Assembleia Plenária inclui eleições para os órgãos da CEP.

OC

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