Igreja/Abusos: «O sofrimento não prescreve» – Padre Luís Marinho

Assistente nacional do CNE, que integra projeto «Cuidar», destaca importância da formação nas áreas da afetividade e sexualidade

Foto: Agência ECCLESIA/HM

Lisboa, 29 jan 2023 (Ecclesia) – O padre Luís Marinho, assistente nacional do Corpo Nacional de Escutas (CNE), destacou a importância de formação nas áreas da afetividade e sexualidade, incluindo a prevenção e combate aos abusos.

“É evidente que os crimes prescrevem, têm todos esses enquadramentos jurídicos, mas o sofrimento não prescreve, daí esta capacitação dos nossos dirigentes e da Associação, do ponto de vista institucional, para dar uma resposta credível e eclesialmente relevante, quer dizer, que honre o Evangelho”, assinala o convidado da entrevista semanal Ecclesia/Renascença, emitida e publicada ao domingo.

O sacerdote integra também o projeto CUIDAR, que tem por objetivo apoiar as organizações católicas que trabalham com crianças e jovens, no desenvolvimento de uma cultura de bom trato.

Questionado sobre o relatório da Comissão Independente (CI) para o Estudo de Abusos Sexuais contra Crianças na Igreja em Portugal, que vai ser divulgado a 13 de fevereiro, o padre Luís Marinho fala na próxima “etapa de um caminho”.

“Costumo, às vezes, dizer em conversas informais: o pior está para vir. O relatório e a credibilidade da resposta institucional que a Igreja for capaz lhe dar vão revelar se as pessoas têm, de facto, confiança no que estamos a fazer e no modo como levamos a sério esta questão”, explica.

O entrevistado destaca que a Igreja “não comanda o tempo da palavra das vítimas”, apontando a “um processo longo de mostrar por decisões, por gestos, por palavras, que somos credíveis”.

O assistente nacional do CNE realça o facto de o relatório ser divulgado no ano da Jornada Mundial da Juventude (JMJ), em Lisboa.

“Os jovens esperarão seguramente uma Igreja credível, que também sabe reconhecer as suas fragilidades. Eu acho que isto é o Evangelho a revelar-se e, portanto, não é nenhum ataque, não é nenhuma agressão, não é nenhum incómodo para a Jornada”, declara.

A respeito do Projeto ‘Entre Linhas. A sexualidade humana: entre a natureza, a cultura e a liberdade’, o CNE promove até hoje, em Coimbra, o Simpósio ‘Lugares da Afetividade e da Sexualidade na Configuração da Identidade Pessoal’.

Segundo o sacerdote, a Associação identificou “zonas de sombra”, onde os dirigentes, “particularmente nesta área da afetividade e da sexualidade, sentem uma grande dificuldade”.

O objetivo, acrescenta, foi “envolver a Associação numa reflexão de fundo, que permitisse compreender melhor o que é a afetividade, a sexualidade e a importância que isso tem na configuração das identidades pessoais e das histórias de vida”.

É numa perspetiva educativa que estamos a fazer este projeto. Nós não estamos aqui para mudar a doutrina da Igreja, não estamos aqui para afrontar ou enfrentar quem quer que seja”.

O padre Luís Marinho admite que o tema “suscita muitos medos” e há quem tem que venha a “pôr em causa a identidade católica da Associação”, cenário que rejeita.

“A fé cristã corre o risco de se tornar irrelevante, particularmente nesta dimensão da vida”, adverte o assistente nacional do CNE.

O entrevistado fala num “trabalho eclesial em rede”, sinodal.

“Somos uma Associação católica que agregou outras realidades da vida eclesial para fazermos este caminho em conjunto”, realça.

Para o padre Luís Marinho, este é “um trabalho a longo prazo e um trabalho de fundo, na lógica do Evangelho, na lógica da vida eclesial”.

Henrique Cunha (Renascença) e Octávio Carmo (Ecclesia)

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