Fome: «Devemos trabalhar mais para cumprirmos o nosso dever enquanto comunidade internacional», diz responsável do Vaticano

Último relatório da ONU relacionado com alimentação realça a existência de mais de 820 milhões de pessoas subnutridas no mundo

Cidade do Vaticano, 17 jul 2019 (Ecclesia) – O observador permanente da Santa Sé junto da FAO, organismo das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura, diz que falta um longo caminho para que “a humanidade cumpra o seu dever a favor dos mais pobres”.

Em entrevista ao portal Vatican News, na sequência da publicação do último relatório da ONU relacionado com segurança alimentar e nutricional no mundo, o padre Fernando Chica Arellano realça que “a comunidade internacional tem de fazer mais” e questiona “a vontade” de muitos países em resolver as problemáticas que têm influência nesta matéria.

Como “as guerras, as crises económicas e as alterações climáticas”.

“A comunidade internacional deve crescer em solidariedade, porque a solidariedade, o investimento na paz, são uma forma de lutar contra a fome”, aponta o representante da Santa Sé.

O último relatório da ONU dedicado à segurança alimentar e nutricional no mundo, que foi apresentado nos últimos dias em Nova Iorque, nos Estados Unidos da América, refere que “em 2018, mais de 820 milhões de pessoas não tinham comida suficiente”.

Este trabalho demonstra ainda que “pelo terceiro ano consecutivo, a fome no mundo não dá sinais de declínio”.

A maior fatia de pessoas subnutridas, mais de 513 milhões, diz respeito à Ásia, em especial na parte sul, a países como a Índia, a Birmânia, a Tailândia ou a Malásia.

No entanto, o relatório recorda também a “situação extremamente alarmante” que muitas pessoas continuam a viver no continente africano (cerca de 256 milhões), onde encontramos “as mais altas taxas de fome no mundo”.

Uma preocupação também bastante acentuada pelo documento é a fome entre a população mais jovens, nos países mais subdesenvolvidos.

Mais de 20 milhões de crianças nascem atualmente com baixo peso, ou seja, “um bebé em cada sete” nasce com sinais de subnutrição.

Foto: O padre Fernando Chica Arellano, observador permanente da Santa Sé junto da FAO, Vatican Media

Quando avançados para crianças até aos cinco anos de idade, o relatório indica que perto de 150 milhões sofrem de “subnutrição crónica” e quase 50 milhões padecem de “subnutrição aguda”.

Em contrapartida, e em especial nos países considerados mais desenvolvidos, crescem os casos de “obesidade” e de “pessoas com excesso de peso, particularmente entre crianças em idade escolar” e entre a população adulta (672 milhões).

Para o observador permanente da Santa Sé junto da FAO, é essencial olhar para estes números pois “por trás deles estão pessoas que não terão um presente sereno nem um futuro auspicioso”.

“Os números são realmente muito eloquentes. Significa que devemos trabalhar mais para cumprirmos o nosso dever enquanto comunidade internacional e, sobretudo enquanto pessoas, também ao nível individual”, frisa o padre Fernando Chica Arellano.

Para o sacerdote espanhol, é também crucial “não fechar os olhos e os ouvidos ao grito dos famintos”, ou seja, que cada um atue como “bom samaritano” do seu próximo, daquele que está em dificuldade.

Pois só assim será possível “derrotar a fome” e concretizar os outros objetivos de desenvolvimento sustentável que estão incluídos na Agenda 2030.

O Papa Francisco, no dia 27 de junho, recebeu no Vaticano os participantes de uma conferência da FAO e reforçou que o combate à fome e à subnutrição “é um problema que deve envolver a todos, porque o sofrimento de uma pessoa é o sofrimento de todos”.

Francisco apelou ainda ao “bom uso da água, sobretudo na produção de alimentos”, e a uma “distribuição mais justa” deste recurso essencial, que ainda escasseia em tantas regiões do planeta.

Facto que constitui uma “desigualdade verdadeiramente cruel”, apontou o Papa argentino.

O relatório sobre segurança alimentar e nutricional de 2019 foi realizado pela FAO em parceria com mais quatro organismos da ONU – o Fundo Internacional para o Desenvolvimento Agrícola; a UNICEF, através do seu Fundo para a Infância; o Programa Mundial de Alimentos e a Organização Mundial da Saúde.

Este documento faz parte do esforço de monitorização dos progressos feitos rumo ao segundo Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) – “Fome Zero” – iniciativa que visa derrotar a fome, promover a segurança alimentar e erradicar todas as formas de desnutrição até 2030.

JCP

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