«Dilexit nos»: Nova encíclica do Papa Francisco é «pensada para o mundo contemporâneo», marcado por guerras – padre António Sant’Ana

Diretor da Rede Mundial da Oração do Papa em Portugal analisa documento, defendendo que Papa quer unificar cristãos no coração de Jesus, no contexto de um «mundo fragmentado»

Padre António Sant’Ana, diretor da Rede Mundial de Oração do Papa

Lisboa, 13 nov 2024 (Ecclesia) – O diretor da Rede Mundial de Oração do Papa em Portugal afirmou que a nova encíclica do Papa Francisco “Dilexit nos” (Amou-nos) remete para o tempo em que o mundo vive, com guerras em curso em várias geografias.

“Eu acho que esta encíclica também vem muito pensada para o momento contemporâneo que estamos a viver. Porque há uns anos nunca pensámos ter uma guerra na Europa, ou aqui perto, como a guerra da Ucrânia, a guerra no lugar onde Jesus viveu, a Terra Santa, a Palestina, Israel”, afirmou o padre António Sant’Ana, em entrevista ao programa Ecclesia, transmitido hoje, na RTP2.

O sacerdote jesuíta sublinha que o Francisco tem “falado muito sobre as guerras”, que “é um tema que está muito no coração e é uma preocupação grande”.

“O Papa diz que o mundo parece ter perdido o coração. E por isso é preciso recuperarmos a centralidade do nosso coração nas nossas relações. E é Jesus que o pode fazer a partir do seu próprio coração”, destacou.

O Papa Francisco publicou, a 24 de outubro, a quarta encíclica do pontificado em que, entre outros aspetos, alerta para um mundo sem coração, preso ao consumo e à violência, e defende a importância e atualidade da devoção ao Coração de Jesus.

“Hoje vivemos num mundo muito fragmentado e o Papa quer unificar-nos novamente uns com os outros e nada melhor do que unificar-nos no coração de Jesus”, salientou o padre António Sant’Ana, referindo que esta encíclica é a “cereja no topo do bolo”, devido ao Papa ser jesuíta e à importância que tem a Companhia de Jesus na devoção ao Coração de Jesus.

O também coordenador europeu da Rede Mundial de Oração do Papa acredita que o Papa pensou no “momento oportuno” para lançar a encíclica, publicada dias antes do Sínodo dos Bispos terminar, a 26 de outubro.

“O Sínodo apostou muito, o Papa foi insistindo muito na escuta. Escutar, dialogar, para depois podermos fazer caminhos juntos. E para escutarmos e para dialogarmos uns com os outros temos que ter uma matriz de leitura comum. E esta matriz de leitura comum pode ser o coração de Jesus”, indicou.

Com a aproximação do início do Ano Santo, em 2025, o sacerdote jesuíta considera que o coração de Jesus surge como o “norte da bússola para orientar” os cristãos.

Para o padre António Sant’Ana, o amor de Jesus tornará possível uma “Igreja renovada”, “uma Igreja atualizada aos dias de hoje”.

“Também o nosso olhar, a nossa forma de falarmos, os gestos solenes que temos uns para com os outros, é tudo isso que pode transformar novamente a Igreja. Portanto, a Igreja renova-se também, regressando à fonte, que é Cristo”, defendeu.

O sacerdote jesuíta defende que o documento, que liga o Sagrado Coração de Jesus aos exercícios espirituais de Santo Inácio, é “de grande densidade”, “muito pedagógico” e que pode ser lido também por quem tem menos conhecimentos teológicos.

O padre António Sant’Ana contextualiza que a encíclica explica, do ponto de vista filosófico, o que é o coração, cruza muitas expressões bíblicas, nomeadamente do Novo Testamento, com exemplos da vida de santos, aborda como é que os padres olhavam para a dimensão do coração de Jesus, citando também autores medievais e contemporâneos.

A inteligência artificial e a forma como a poesia não deve ser esquecida são pontos abordados na encíclica e que, segundo o diretor da Rede Mundial da Oração do Papa em Portugal, mostram que o Papa conhece bem o mundo e os problemas e as realidades que dele fazem parte.

“Esta encíclica dá-nos ferramentas para vivermos em diferentes dimensões de uma nova forma como cristãos no mundo de hoje”, referiu.

LS/LJ/OC

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