«Cristianismo e Marxismo em debate nos anos 70»: «Relação de convívio, de tolerância e de pluralismo» presente em diálogo do livro é hoje necessidade «mais atual»

Jornalista José Pedro Castanheira apresenta obra, que é transcrição de um colóquio promovido em janeiro de 1974, pela JUC

Lisboa, 10 abr 2024 (Ecclesia) – O jornalista José Pedro Castanheira considera que a “relação de convívio, de tolerância e de pluralismo” manifestada no diálogo presente na obra “Cristianismo e Marxismo em Debate nos Anos 70” é hoje uma necessidade ainda “mais atual”.

“[O Diálogo entre João Resina Rodrigues e Mário Sottomayor Cardia] foi a prova que a JUC (Juventude Universitária Católica) quis relevar e demonstrar que é perfeitamente possível cidadãos, pessoas de crenças, de pensamentos, de mentalidades, de opções tão diferentes como entre cristãos e marxistas, conversarem, dialogarem e muitas vezes chegarem a acordo entre si e trabalharem em conjunto em prol dos direitos humanos”, afirmou o coordenador do livro.

O livro é a transcrição de um colóquio promovido em janeiro de 1974, pela JUC de Lisboa, cujo tema genérico foi a relação entre o marxismo e o cristianismo e que juntou o padre João Resina Rodrigues, um dos assistentes religiosos da JUC e professor no Instituto Superior Técnico, e Mário Sottomayor Cardia, filósofo e ensaísta, dissidente do PCP e já ligado ao PS, de que viria a ser um dos principais dirigentes e futuro ministro.

Em entrevista à Agência Ecclesia, transmitida esta quarta-feira na RTP2, José Pedro Castanheira refere que o debate em causa foi “absolutamente sui generis em Portugal na época, nos anos 70”.

O jornalista contextualiza que “na Europa, havia o grande debate sobre a participação dos cristãos, e em particular dos católicos, em movimentos, em partidos socialistas e até comunistas”, e que isso colocou a questão na ordem do dia, do diálogo entre os cristãos e os socialistas.

“A questão que se colocava era: ‘Seria razoável, legítimo, normal, aos cristãos militarem e participarem ativamente em partidos marxistas e socialistas?’”, explica José Pedro Castanheira, numa altura em que o Partido Socialista português tinha acabado de ser fundado e já com uma grande atenção dos católicos.

Sobre o nascimento do livro, a ideia surgiu na pandemia, quando o jornalista, fechado em casa, decidiu organizar o arquivo pessoal, e durante o processo encontrou uma pasta de cartão de cartão, com as iniciais da Juventude Universitária Católica.

No interior estava a transcrição de um dos três colóquios que a JUC realizou em 1974, antes do 25 de abril, que deu origem ao livro.

“Nós na JUC gravámos áudio, na altura ainda não havia a facilidade de fazer gravações vídeo, infelizmente, mas é outra época, gravámos, em todo o caso, numa cassete esses três colóquios. Eu na altura, inclusivamente, transcrevi os três colóquios que havíamos organizado”, lembra.

PR/LJ/OC

A obra “Cristianismo e Marxismo em Debate dos Anos 70”, que foi apresentada no dia 21 de março, pelo cardeal D. Manuel Clemente e Francisco Louçã, antigo coordenador do Bloco de Esquerda, tem o prefácio do jurista e historiador António Araújo.

O livro inclui ainda um perfil biográfico dos dois intervenientes: o do padre João Resina Rodrigues foi escrito pelo jornalista e diretor do 7Margens, António Marujo, e pelo investigador do CEHR/UCP e doutorando Pedro Silva Rei; o de Mário Sottomayor Cardia é da autoria de Carlos Leone, licenciado em Filosofia, doutorado em História das Ideias e investigador da Universidade Aberta.

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