Coimbra/Açor: «A alma da serra são as pessoas e a vida que aqui existe» – Padre Orlando Henriques (c/vídeo)

Pároco de Góis e Marisa Carvalho partilham e destacam as tradições da Serra do Açor

Pampilhosa da Serra, 31 ago 2021 (Ecclesia) – O padre Orlando Henriques, pároco de Góis, na Diocese de Coimbra, disse que “alma da serra são as pessoas” e a vida que ali existe, no Programa ECCLESIA dedicado às “tradições e alma serrana” nas localidades da Serra do Açor.

“A alma da serra são as pessoas e a vida que aqui existe. Aqui existe vida, mesmo num território muito desertificado estar na serra, ser da serra e viver da serra tem a sua especificidade. A serra tem alma que é a vivência das pessoas que aqui vivem”, explicou o sacerdote, à Agência ECCLESIA, em Fajão, na Pampilhosa da Serra.

O pároco de Góis recorda “a carta a Diogo Neto, dos princípios da cristandade”, que diz que ‘os cristãos são no mundo aquilo que a alma é no corpo’, e as pessoas que vivem na Serra do Açor, “com o seu trabalho, com a sua fé, são a alma” desse corpo que é a serra.

“Tem penedos, mato, mas, naturalmente, tudo isso é inanimado, o que dá vida são as pessoas e a forma como vivem e como lutam aqui”, desenvolveu o padre Orlando Henriques.

Marisa Carvalho, estudiosa das tradições da Serra do Açor, explica que essas tradições estão “muito enraizadas”, nomeadamente as tradições religiosas e gastronómicas, onde destacou o bucho, o maranho, a chanfana, a broa, “as trutas, os peixes do rio em geral”, os “doces, a tigelada muito típica, as filhós” e a erva aromática serpão.

No contexto religioso, a especialista destaca a Semana Santa, os bodos, a festa do santo da paróquia, de cada capela ou igreja, e, com o regresso dos emigrantes, principalmente em agosto, a festa do padroeiro “é uma vivência, uma tradição, muito grande”.

“As tradições andam muito presentes no dia-a-dia das pessoas aqui da serra. A Semana Santa na Pampilhosa no passado era mais vivida, mais intensa, mas continua a ser das manifestações religiosas mais marcantes no concelho”, exemplificou Marisa Carvalho no Programa ECCLESIA transmitido hoje na RTP2.

O padre Orlando Henriques realça que as pessoas são praticantes e “a fé é fundamental e muito marcante” na sua vida, “nalguns casos é mais esclarecida do que noutros, é normal”, mas “é importante ao ponto de dar vida”.

“Ser esta a alma, a fé cristã vivida por estas pessoas é esta alma da serra”, realçou.

O sacerdote recorda que era no inverno que “gostava ainda mais de trabalhar” nestas localidades, com as pessoas que estão ali o ano todo, em lugares onde durante o inverno, “e o ano todo, não acontece nada, a não ser a Eucaristia”.

“No fundo é fazer aquilo que o Papa diz: Ir às periferias, ir aos últimos. Estas pessoas mesmo sendo poucas e mesmo estando a celebrar para tão pouca gente precisam, porque durante o ano não há outra coisa e muitos não podem deslocar-se até onde haja Eucaristia”, acrescentou padre Orlando Henriques, que salientou a existência de uma “cultura de proximidade”.

Na aldeia de Fajão, na Serra do Açor, o sacerdote aponta para “o verde e as pedras” que representam muito daquilo que é “a própria serra e a forma como as pessoas vivem”, trabalhando a natureza, a criação que Deus deixou.

“Mas com o objetivo de aperfeiçoarmos e continuarmos essa obra. Aqui as pessoas ao longo dos tempos continuaram como ninguém essa obra, cultivando, criando os animais, talhando a pedra, construindo as igrejas, os santuários, esse pontos de encontro em que pela matéria se chega à fé”, realçou.

Contudo, alerta, no modo de vida atual “não existem muitos empregos”, não há muitas oportunidades e “é difícil fixar as pessoas”.

“Aprendi a viver cada vez mais aqui. É uma serra bonita e tem muitas vantagens: Podemos sair do trabalho e ir com os filhos ao parque, à praia fluvial”, disse Marisa Carvalho, estudiosa das tradições da Serra do Açor.

LFS/CB

 

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