Braga: «Confronto com o Evangelho» e «atitude de escuta» vão indicar o que é para continuar ou para repensar, afirma D. José Cordeiro

Em entrevista à Agência ECCLESIA, novo arcebispo de Braga reconheceu que a Igreja «acordou muito tarde» para o problema do abuso de menores, que é necessário reconhecer com «humilhação», e diz que o processo sinodal «é irreversível»

Foto: Agência ECCLESIA/PR

Braga,  14 fev 2022 (Ecclesia) – O arcebispo de Braga afirmou que a Igreja “acordou muito tarde” para o problema dos abusos sexuais, deseja que os jovens participem no processo sinodal e quer continuar ou repensar a pastoral na região no “confronto com o Evangelho”.

Em entrevista à Agência ECCLESIA por ocasião do início do ministério em Braga, D. José Cordeiro sublinhou que a “atitude de escuta” vai marcar os primeiros tempos, para conhecer o “mais profundamente possível” a realidade da arquidiocese, onde se apresenta como “peregrino do Evangelho da Esperança”, e encontrar “os melhores dinamismos pastorais para responder ao hoje da história”.

Tudo o que existe é para ser continuado e o que tiver de ser repensado, sempre no confronto como o Evangelho, tem de ser”, afirmou.

O arcebispo de Braga referiu que, diante das várias opções e projetos, é necessário fazer a pergunta fundamental “o que é que isto tem a ver com o Evangelho?”, uma vez que “a Igreja existe para evangelizar, a sua identidade é evangelizar”.

Foto: Agência ECCLESIA/PR

“A Igreja não tem a vocação de ser organismo político ou plataforma empresarial”, sublinhou.

D. José Cordeiro admitiu que iniciar o ministério na Arquidiocese de Braga quando está em curso o sínodo em toda a Igreja é um “enorme desafio” e afirmou que “o processo sinodal é irreversível”.

“É para continuar, mais e melhor, com coragem, com confiança e com a maior esperança. A Igreja existe para isto, para Evangelizar, em todas as suas dimensões, por maiores que sejam os dossiers e a complexidade dos mesmos”, indicou

O arcebispo de Braga agradeceu “todo o trabalho realizado” por D. Jorge Ortiga nos últimos 22 anos, a “renovação que foi feita” e disse que os planos futuros vão passar primeiro por conhecer as várias geografias da arquidiocese, nomeadamente os 14 arciprestados, que deseja visitar nas duas primeiras semanas, e os diferentes organismos e estruturas, assim como promover a auscultação “fora da Igreja”.

Questionado sobre a oportunidade da Jornada Mundial da Juventude, em 2023, D. José Cordeiro disse que os jovens devem participar no “processo da renovação da Igreja”, valorizou a presença da comunidade académica na região, e os “dinamismos já implementados” na pastoral juvenil.

D. José Cordeiro referiu-se aos abusos de menores e adultos vulneráveis nos ambientes da Igreja Católica como uma realidade que é necessário “reconhecer com humildade e até na humilhação”, considerando tratar-se de a uma “vergonha” e uma “praga na Igreja”.

É um momento muito delicado, muito duro na vida da Igreja. A sociedade acordou muito tarde e a Igreja também. Da nossa parte somos chamados a fazer tudo o que está ao nosso alcance com os procedimentos que já estão em curso e as práticas de acompanhamento, da prevenção”, afirmou.

O arcebispo de Braga mostrou-se confiante nas iniciativas da Conferência Episcopal Portuguesa para “enfrentar e ultrapassar” o problema dos abusos e disse que “a Igreja é chamada a ser um lugar acolhedor, seguro e de confiança”.

Nesta entrevista, D. José Cordeiro referiu-se também à entrada em vigor da terceira edição do Missal Romano como uma ocasião de “consolidação da reforma litúrgica” e da “urgente necessidade da formação litúrgica”, disse que nunca teve por horizonte “um trabalho na Santa Sé”, onde colabora com a Congregação para o Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos, e que Bragança “está e estar é sempre” no seu coração, onde voltará sempre que for possível.

A entrevista a D. José Cordeiro e a reportagem sobre a entrada na Arquidiocese de Braga é emitida esta terça-feira no programa Ecclesia, na RTP2, a partir das 15h00

PR

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