D. António Marto, Bispo de Viseu e um dos delegados da CEP no recente Sínodo dos Bispos, no Vaticano, considera que a falta de vocações sacerdotais não pode ser justificada unicamente com a questão do celibato. “O problema não é o celibato, como se diz muito por aí. O problema não é esse porque a Igrejas Evangélicas da Europa sofrem da mesma crise de vocações e têm o clero casado”, aponta. Numa altura em que a Fé na Europa “dá ares de cansada”, o prelado fala da sua experiência no Sínodo para explicar, em entrevista ao Diário Regional de Viseu, que “há, com efeito, uma certa rarefacção de vocações a nível europeu”. “Estive agora no Sínodo de Bispos em Roma e verificámos que na Ásia, em África e até nalguns países da América Latina há um florescer de vocações. A geografia das vocações é variada, como se pode ver”, aponta. A crise demográfica e a existência de um “um clima cultural diferente” são algumas das razões apontadas para a quebra do número de sacerdotes no Velho Continente. “Antes, o ser-se padre era considerado como uma espécie de promoção, enquanto hoje é um serviço humilde que se presta ao povo de Deus. Mas, sobretudo, a causa principal é o esmorecimento da Fé nas comunidades cristãs. A Fé na Europa dá ares de cansada”, explica. Interrogado sobre a forma de modificar a situação, D. António Marto diz que “hoje é preciso interpelar a juventude cristã e as próprias comunidades cristãs”. “É preciso mostrar a beleza do sacerdócio que é de uma beleza espiritual grande.”, frisa, acentuando que “porque se trata da beleza espiritual do mundo e das pessoas, o que é mais importante, ou seja, o Mundo sem esta beleza seria selvagem”. O Bispo não nega que “em comparação com outras dioceses de Portugal e da Europa, só tenho de dar graças a Deus, porque em Viseu para 260 mil habitantes temos 145 sacerdotes. Estamos bem providos, neste momento”. D. António Marto desvaloriza, por outro lado, a situação, ao sublinhar: “Não façamos desta falta de vocações um drama. Porque Deus escreve direito por linhas tortas, também. Há uma certa purificação na Igreja, nas comunidades, na maneira de ser cristãs… que às vezes só um choque vindo de fora será capaz de as fazer dar um passo em frente.” “Nós é que estamos habituados ao padre que faz tudo. Os leigos responsáveis têm por obrigação ajudar a revitalizar as comunidades cristãs”, alerta.
