O Arcebispo Primaz de Braga criticou ontem a vivência cristã assente num «tradicionalismo oco e vazio». Na homilia que proferiu na missa de sufrágio pelos prelados e cónegos bracarenses, D. Jorge Ortiga recomendou que, «para além da fidelidade à tradição da Igreja, os cristãos tivessem também coragem para renovar, através de uma linguagem moderna, as suas práticas sociais e celebrativa». O prelado classificou a comemoração litúrgica dos Fiéis Defuntos como «uma ocasião para reavivar a fé». «Rezamos e agradecemos a vida das pessoas falecidas e, tomando-os como exemplo, é necessário que não se tenha a tentação de saborear apenas o momento presente», alertou o Arcebispo Primaz, referindo-se de forma particular aos mais jovens e acrescentando que «as pessoas e as instituições também têm um passado, que hoje se continua a desenrolar». Hoje [ontem], «é importante que se reflicta o valor e a importância da vida dos familiares e amigos falecidos, para tomarmos consciência das raízes da nossa própria família», sustentou o prelado, que afirmou que «sufragar os mortos também é recordar a forma como viveram e fizeram parte da comunidade cristã». Para D. Jorge Ortiga, «os nossos antepassados cultivaram a fé e a tradição cristã de forma permanente. Importa que cada um não o faça de maneira oca e vazia, mas através de expressões concretas das quais nos possamos orgulhar. Essas [expressões] importa desenvolver e conservar». Referindo-se aos arcebispos, bispos e cónegos falecidos, o Arcebispo de Braga referiu que se tratou de «uma plêiade de homens que se entregaram de alma e coração à causa do reino de Deus. Se hoje encontramos obra feita, é porque se doaram e entregaram de forma inequívoca». «O trabalho do Cabido, realizado a partir desta Catedral serviu para preservar a memória histórica da nossa família arquidiocesana. A implantação da fé deveu-se à resposta dada pelos bispos e cónegos que nos precederam. Por isso, temos de ser dignos dessa herança. Esses clérigos concederam-nos também a oportunidade de nos apaixonarmos ainda mais por esta Igreja de Braga », finalizou D. Jorge Ortiga. No final da Eucaristia, os concelebrantes dirigiram-se ao altar das Almas, onde recitaram um responsório, e, de seguida, rezaram junto aos túmulos dos prelados e cónegos de Braga. Recorde-se que o Cabido Metropolitano e Primacial Bracarense foi criado pelo bispo D. Pedro em 1071. São 140 os arcebispos de Braga já falecidos.
