25 de Abril: Cardeal D. Américo Aguiar considera «perigoso» alheamento de «fatia significativa da população» na celebração dos 50 anos da democracia

Bispo de Setúbal participou em colóquio sobre «25 de Abril, hoje. Património ou desafio?»

Lisboa, 17 abr 2024 (Ecclesia) – O bispo de Setúbal lamentou esta terça-feira, na 9ª edição do Colóquio Pensamento sobre a Revolução dos Cravos, em Linda-a-Velha (Lisboa), o alheamento de uma parte “significativa” da população, na celebração de meio século de democracia em Portugal.

“É perigoso que uma fatia significativa da população não esteja nem aí para os 50 anos do 25 de abril, pois não estamos livres de um pesadelo e de acordarmos para um mundo diferente” um destes dias, afirmou o cardeal D. Américo Aguiar, no Palácio dos Aciprestes, informa a Diocese de Setúbal.

A iniciativa, com a curadoria de Pedro Abrunhosa e Paulo Mendes Pinto, sobre “O 25 de Abril, hoje. Património ou desafio?” contou com a participação de Rui Tavares, porta-voz do partido Livre.

Na tertúlia, D. Américo Aguiar criticou ainda que, “no Parlamento, não seja normal a sã convivência de pessoas que pensam de maneira diferente” e questionou: “Há limite em o outro defender aquilo que pensa? Temos de ter um pacto social de linhas vermelhas?”.

É preciso parar para pensar e refletir sobre que forma podemos melhorar a nossa democracia, e não ter medo disso”, defendeu, justificando que “a ideia generalizada de que todos os políticos são ladrões ou corruptos a certa altura cria uma generalização que é perigosa”

“Hoje em dia, quando alguém aceita ser deputado, governante ou autarca, eu rezo por eles porque ou é loucura ou martírio”

Sobre o porquê de a Igreja não ter sido tão afetada após a revolução como o foi no tempo da I República, D. Américo Aguiar recordou a figura de D. António Ferreira Gomes, antigo bispo do Porto, exilado pelo regime, e “os diferentes movimentos que falavam e refletiam sobre a liberdade”, assinalando como parte da razão que levou a que a transição fosse mais pacífica.

O cardeal elogiou também a posição da Igreja Católica em Portugal ao ter decidido ““não abençoar um partido católico, mas incentivar a presença dos católicos em todos os partidos com que se identificassem”.

“Isso eventualmente tirou alguma visibilidade à Igreja, mas foi uma opção com a qual concordo”, assumiu.

No colóquio, o bispo de Setúbal abordou o problema de uma nova geração de leigos menos ativa na praça pública e reconheceu que a Igreja “tem défice de salvar as costas aos leigos que dão a cara”.

“Isso aconteceu e foi desgastando o laicado que, com a «vacina» do Concílio Vaticano II, era muito ativo”, referiu.

No final da intervenção, D. Américo Aguiar salientou que “falta cumprir a Fraternidade”, “falta olhar para o outro como meu irmão”.

LJ/OC

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