Portugal: «Caminho de liberdade e sistema democrático» contaram com contributo ecuménico e diálogo inter-religioso – pastora Míriam Lopes

«Antes do 25 de abril de 1974, era-se considerado diferente, quase uns apátridas, cidadãos de segunda categoria», recorda

Lisboa, 20 jan 2024 (Ecclesia) – Míriam Lopes, pastora na Igreja Presbiteriana de Portugal, disse que o diálogo inter-religioso e ecuménico contribuam para “o caminho de liberdade” e para o “sistema democrático” que o 25 de abril de 1974 veio iniciar.

“A efervescência ecuménica, por influência e inspiração do Concílio Vaticano II, foi um marco importante e que temos que considerar. O caminho para a liberdade que nós temos hoje, e o sistema democrático também foi feito dentro deste diálogo inter-religioso e entre Igrejas”, conta a responsável à Agência ECCLESIA.

Foi a partir da vivência do seu pai, o pastor Francisco Lopes, que foi professor numa missão em Angola, na Igreja Metodista, onde o ambiente ecuménico era uma realidade, que a pastora Míriam Lopes recorda o seu crescimento e a génese dos encontros ecuménicos.

Antes do 25 de abril de 1974, “era-se considerado diferente, quase uns apátridas, cidadãos de segunda categoria”.

“Religiosamente falando, Portugal nunca foi monolítico e teve sempre movimentos e expressões diferentes. Simplesmente, a partir do momento em que as Igrejas protestantes surgem em Portugal, com consistência, a partir do século XIX, lembro que só foi possível isso acontecer depois do fim da Inquisição. Depois foram mais ou menos consentidas e no tempo da Primeira República houve a expectativa de alguma liberdade religiosa. Depois, foram constituídos alguns princípios durante o Estado Novo, mas havia sempre receio de que no meio de atividades religiosas acontecessem atividades subversivas”, assinala.

A responsável dá conta de “muita vigilância” e “falta de noção”: “Num tempo em que nós estávamos constrangidos, o que é que significava verdadeiramente proclamar o Evangelho integral, em termos sociais, em termos da dignidade do ser humano, num Portugal que podíamos dizer hoje muito atrasado socialmente, economicamente, culturalmente também”.

A Lei de Liberdade Religiosa de 2001 abriu espaço para “um tempo de alívio e esperança” e é encarado como um “processo fundamental”.

Tem sido considerado por todos como uma das chaves da nossa paz verdadeiramente social entre as Igrejas, entre as confissões, entre as religiões e que dá ao nosso país uma noção de maturidade, de respeito e de reconhecimento, que a diversidade não é um atentado à nossa identidade, é talvez um assumir o nosso pensamento plural, que sempre existiu e sempre existirá”.

O tempo, desde 1974 até à aprovação da lei de liberdade religiosa, é entendido pela pastora Míriam Lopes, como um período de “maturação da própria sociedade, nomeadamente da classe política, que resultou bem e que contou com a participação de pessoas de várias inspirações religiosas”.

“Temos que considerar que Portugal, durante muitos anos, teve se calhar outras prioridades, mas isso, no fundo, é mais uma afirmação de um processo que se apurou”, traduz.

A conversa com a pastoral Míriam Lopes vai estar em destaque no programa 70×7, domingo, emitido na RTP2 às 07h30, no âmbito da Semana de Oração pela Unidades dos Cristãos.

PR/LS

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